
Águas Abertas, a minha verdadeira especialidade e paixão.
Nadamos em rios, mares e lagos, correntes, ondas, temperaturas adversas, etc...
Os 25 Km são a minha distância preferida.
Já passei uma noite no Hospital, debilitada por uma prova.
Tenho em mente, ser a primeira portuguesa a atravessar, a nado, o Canal da Mancha!
Fafedesportivo:
Daniela, és uma das inúmeras atletas que servem o V.S.C. Guimarães. Como
aconteceu a tua paixão pela natação, com que idade, e porque optaste pelo
Vitória?
Daniela
Pinto: Aos 7 anos comecei a praticar natação por
vontade dos meus pais. Queriam que eu fizesse alguma atividade desportiva e
dado que a natação é um desporto muito completo, decidiram inscrever-me na
piscina em Fafe. Fiz as minhas primeiras provas pelo A.D.F., mas aos 14 anos
mudei-me para o Vitória. O Vitória já era uma referência na natação do norte do
país e treinar com atletas campeões regionais e nacionais permitir-me-ia
evoluir mais rapidamente.
Fafedesportivo:
Daniela, explica-nos lá, até para os nossos leitores ficarem com um
conhecimento mais profundo, o que é competir em águas livres?
Daniela
Pinto: Águas abertas é uma competição de natação
realizada fora das paredes e limitações de uma piscina. Nadamos em rios, mares
e lagos. O contato com a natureza, as diferentes sensações que é possível
sentir, a grande variedade de obstáculos encontrados, como: correntes, ondas,
temperaturas adversas, etc. Tornam as provas de Águas Abertas num desafio
único. As distâncias percorridas variam bastante, mas eu dedico-me
especialmente à distância olímpica, de 10 km, e à minha preferida, os 25 km.
Qualquer uma destas distâncias exige uma grande tolerância, paciência e
determinação.
Fafedesportivo:
Ficamos felizes, como fafenses, em saber que foste campeã nacional na prova que
decorreu em Montemor-o-Velho, onde percorreste 5 km em apenas 01:04:30.5h. Competiste
pelo Vitória. É o teu melhor tempo? A quem pertence o record actual nacional, e
qual o tempo?
Daniela
Pinto: Os campeonatos nacionais, como acontece em todas
as modalidades desportivas, nunca são em representação da Seleção, mas sim do
clube, no meu caso o Vitória. Nas Águas Abertas não há uma prova igual, as
diferenças de condições de prova para prova são tão grandes que não faz sentido
haver um registo de recordes nacionais ou mundias. Basta que num dia a corrente
esteja muito forte e a favor e que noutro esteja muito vento e ondas, para que
o tempo final seja pior em dez ou quinze minutos. Nas competições de Águas
Abertas o que realmente interessa é o lugar na classificação, o tempo acaba por
ser secundário. O que existe são referências em piscina, onde o ambiente muito
mais controlado permite aos atletas aferir o seu real estado de forma e
comparar com prestações passadas. O meu melhor registo aos 5 km em piscina é de
1h01m21s , alcançado no ano passado.

Fafedesportivo:
Para além de Água Livres, também competes em piscinas. No Campeonato Regional
Absolutos tens conseguido boas prestações. Qual a melhor até á data? Individual
ou Estafetas?
Daniela Pinto: Apesar das provas serem realizadas em rios, mares e lagos, grande parte do meu treino é feito em piscina. E a competição em piscina é essencial na minha preparação. Especialmente durante os meses de Inverno, em que o tempo não é propício para a prática de natação em Águas Abertas, tenho ajudado o Vitória a conquistar alguns títulos regionais e pódios nacionais em estafeta. De vez em quando, também consigo alguns resultados interessantes a nível individual. Para mim qualquer pódio numa prova em piscina é já um indicador da excelente época que posso vir a ter nas Águas Abertas, a minha verdadeira especialidade e paixão.
Fafedesportivo:
Sabemos que foste convocada para as etapas da Taça do Mundo FINA 2012 do Brasil e Argentina na distância
de 10km. Como decorreu esta prova?
Daniela
Pinto: No ano passado, tendo em vista a minha preparação
para a prova de qualificação para os Jogos Olímpicos, fui convocada para
representar o nosso país em algumas provas da Taça do Mundo. Estas provas
tinham um nível competitivo muito grande e foram fundamentais para que ganhasse
mais experiência internacional e evoluísse como atleta. Fiz as duas com o
intervalo de uma semana, incluindo uma gastroenterite pelo meio, e se a
primeira no Brasil não correu tão bem como queria, a da Argentina deu-me muita
motivação para continuar em busca do meu objetivo de ir a uns Jogos Olímpicos.

Fafedesportivo: Integraste,
em ano de estreia na categoria, a Selecção Nacional que participou no Europeu
de Águas Abertas que decorreu em Israel, em que te tornaste na primeira
nadadora portuguesa a participar na prova mais longa de natação (25Km)
atingindo a melhor marca nacional até à data, o 6.º posto, com 5:26.50,0, a
apenas 26,4 segundos da vencedora, a italiana Alice Franco (5:26.23,6). Com
este resultado, obtiveste a melhor classificação feminina de sempre num
Campeonato da Europa de Águas Abertas. Para quando o 1.º lugar Daniela?
Daniela Pinto: Foi a
primeira vez que participei numa prova tão longa e ía com muito receio para a
prova. Afinal de contas 25 km e mais de 5 horas de prova seriam o dobro de
qualquer coisa que já tinha feito antes. O resultado foi completamente
inesperado e descobrir que gostava tanto desta distância foram sensações que
nunca vou esquecer. Está definitivamente nos meus planos continuar a procurar
bons resultados nesta distância.
Fafedesportivo:
Também estiveste na Taça do Mundo de Setúbal de Águas Abertas. Recorda-nos a
tua prestação nessa prova.
Daniela
Pinto: A Taça do Mundo de Setúbal foi o meu grande
objetivo da época passada. Pois teve a particularidade muito especial de servir
como prova de qualificação para os Jogos Olímpicos. Foi para isso que trabalhei
durante todo o ano, mas infelizmente as coisas não correram como desejava. Tenho
a consciência que dei o meu melhor e tive um apoio fantástico de muita gente,
mas infelizmente no desporto, em particular num como as Águas Abertas, estamos
sempre sujeitos a fatores que fogem do nosso controlo. Nem o facto de fazer
anos nesse dia me safou e acabei a noite no hospital ainda muito debilitada
pela prova.


Fafedesportivo:
És uma ilustre desportista que consta na revista o Minhoto, que premeia os
melhores atletas do Minho, ao lado de grandes campeões em várias modalidades.
Há casos de atletas que “duplicam” a sua presença nessa prestigiada revista
minhota. Pensas ser uma delas?
Daniela
Pinto: Quando saímos de casa todos os dias para treinar
é em busca dos nossos objetivos pessoais, daquela medalha que nos falta, de
representar a nossa seleção ou melhorar um tempo, e não propriamente de
aparecer nos jornais. O reconhecimento público vem por acréscimo mas, como é
óbvio, estes prémios enchem-me de imenso orgulho. É com grande satisfação que
de vez em quando vejo o meu trabalho ser apreciado desta maneira.
Fafedesportivo:
Quais as perspectivas para o futuro? A participação nuns Jogos Olímpicos está
na tua mira?
Daniela
Pinto: A participação nuns Jogos Olímpicos é sempre um
desejo de qualquer atleta. Para o meu futuro, e depois de me ter dedicado quase
exclusivamente à modalidade durante um ano, espero ter tempo agora para
terminar o meu curso e entretanto ir conciliando com a natação da melhor
maneira possível. Tenho já em mente a hipótese de ser a primeira portuguesa a
atravessar o Canal da Mancha a nado e também gostaria de continuar a
representar Portugal nos campeonatos do mundo e da europa.
Fafedesportivo:
Qual é a sensação de seres campeã nacional? Objectivo cumprido? Ou vamos ter a
Daniela mais vezes campeã nacional?


Daniela
Pinto: Ser campeã nacional, por mais vezes que o repita,
tem sempre um sabor especial. É o orgulho de saber que somos a melhor do país
na modalidade a que dedicamos tantas horas dos nossos dias. É sempre um
objetivo em todas as épocas e dá-me enorme motivação para continuar a melhorar
para um dia ser mais do que “apenas” a melhor do meu país.
Fafedesportivo:
É uma modalidade exigente. Quanto tempo de treino fazes diariamente e onde?
Daniela
Pinto: Qualquer desporto de alta competição exige muitas
horas de treino, e a natação de Águas Abertas não é diferente. No ano passado
treinava todos os dias, quase sempre de manhã e à tarde. Estava a viver no
Centro de Alto Rendimento de Montemor, e os treinos dividiam-se entre Coimbra e
Guimarães, aos fins-de-semana. Atualmente como tenho de conciliar com a
faculdade não consigo treinar duas vezes por dia tantas vezes. Nado na piscina
da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto durante a semana, e na piscina
do Vitória em Guimarães ao fim-de-semana.
Fafedesportivo:
A nossa conversa aproxima-se do final. Queres deixar alguma mensagem,
agradecimento, para alguém? A página é toda tua…
Daniela
Pinto: Quero só agradecer a oportunidade de fazer esta
entrevista e deixar um grande obrigado a todas as pessoas que me têm apoiado ao
longo destes anos.
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