quarta-feira, 4 de junho de 2014

Entrevista com Miguel Paredes, treinador do Arões S.C.: "Não há dinheiro que pague a nossa felicidade"


FafeDesportivo à conversa com Miguel Paredes


Texto e fotos: Abel Castro


 - A nossa classificação não foi valorizada a nível concelhio.


 - Em grande parte dos jogos não tive 18 jogadores.


 - Campeonato será ainda mais difícil, com as descidas do Joane e Ninense.


 - Depois da A.D. Fafe, o Arões é o melhor clube em termos de Formação.


 - O Clube perde com a saída de Pedro Castro.


 - Derrota para a Taça A.F. Braga ainda não está digerida.


 - No Arões não há dinheiro que pague a felicidade.


FafeDesportivo: Miguel o Arões terminou a temporada com um lugar no pódio. Sente que a equipa deu o máximo para lá chegar, ou era capaz de produzir mais?
Miguel Paredes: Se no início da época me dissessem que o Arões SC iria ficar no 3.º lugar do campeonato iria ficar muito satisfeito com essa classificação, que nessa altura até era acima do pensado e planeado. Claro que ao longo da época e com o decorrer dos jogos o nosso pensamento foi no sentido de querermos, até por justiça um dos primeiros 3 lugares da classificação, o que acabou por acontecer. O Arões esta época num campeonato novo da Pró-Nacional, que no fundo substituiu a 3.ª divisão nacional, campeonato esse com 18 clubes efectuou uma prova excepcional, que do meu ponto de vista não foi devidamente valorizada, principalmente a nível do nosso concelho. Num campeonato competitivo, conseguimos 19 Vitórias e 8 empates, num total de 65 pontos, sendo o melhor ataque da prova, a melhor equipa a jogar em casa e mais poderíamos ter conseguido caso tivéssemos um plantel mais vasto, o que não é possível por limitações orçamentais. Neste momento deixe-me valorizar o trabalho dos atletas que foram inexcedíveis na aplicação e tiveram um desempenho muito bom ao longo de toda a época, tendo muitos deles dado um passo em frente na afirmação nestes campeonatos. Tudo isto que referi foi conseguido com um dos mais baixos orçamentos da Pro-nacional, que mesmo sendo mais baixo inclusivamente que equipas que desceram de divisão, já é um orçamento difícil de cumprir por parte do clube, que não tem o apoio autárquico que grande parte dos outros clubes do campeonato têm, até porque são sedes de concelho como é o caso de Maria da Fonte, Vieira, Celoricense, Esposende e de outros em que as autarquias ajudam de uma forma muito significativa como é exemplo o Merelinense e o CCD Santa Eulália. 
FafeDesportivo: A exemplo da época passada, a sua equipa claudicou no último terço do campeonato. Foi mera coincidência, ou existem factores que justifiquem essa quebra de rendimento?
Miguel Paredes: Essa sua observação não está correta, pelo que não concordo com ela. A equipa não claudicou no último terço do campeonato, antes pelo contrário. Repare que a equipa fez 34 pontos na 1.ª volta e 31 na 2.ª volta o que evidencia uma certa regularidade, tendo inclusivamente nos últimos 6 jogos do campeonato obtido 4 vitórias e 2 empates, somando 14 pontos em 18 possíveis. O que aconteceu é que por força da taça de Portugal, houve ao longo do campeonato várias equipas com muitos jogos em atraso o que fez com que andássemos na frente do campeonato muitas jornadas, o que deixou de acontecer quando os jogos se normalizaram. Sabe que muitas vezes não se faz uma análise correta da situação e depois algumas situações tornam-se verdades absolutas, situações essas que analisadas pormenorizadamente são facilmente rebatidas. 
FafeDesportivo: O Arões S.C. chegou a liderar o campeonato Pró-Nacional. Nunca ouvimos ninguém do clube dizer que eram candidatos. Está arrependido de não ter assumido a subida? Não foi modéstia em demasia?

Miguel Paredes: Não foi nem é modéstia em demasia ter os pés bem assentes no chão. Repare as pessoas dizem, “vocês deveriam ter-se assumidos como candidatos”, mas desconhecem a nossa realidade. Sabe quantas vezes deixei um atleta de fora da convocatória por ter mais de 18 atletas convocáveis? Apenas uma vez em 38 jogos que efectuamos. Em grande parte das convocatórias não conseguimos ter 18 atletas disponíveis e neste nível essa situação é complicada, principalmente a nível de treino e de competição interna entre os atletas. Mas também lhe digo que com um pouco mais de felicidade e maturidade poderíamos ter chegado ao primeiro lugar. Do meu conto de vista o jogo com o Santa Eulália em casa, no qual ficamos reduzidos a 10 elementos aos 47 minutos e acabamos por perder por 0-1, ditou o nosso destino no campeonato e por outro lado relançou o nosso adversário no campeonato.
FafeDesportivo: A sua equipa foi a que mais golos marcou (65) no campeonato Pró-Nacional. No que concerne a golos sofridos foi a quinta equipa que menos sofreu. Se houvesse aqui uma aproximação, o Arões poderia somar os seis pontos que faltaram para a subida?
Miguel Paredes: Fomos a equipa que mais golos marcou e na diferencia de golos marcados e sofridos fomos a segunda melhor equipa com 29 golos positivos, o que é do meu ponto de vista excepcional. A nossa forma de jogar potenciava a marcação de golos e os nossos jogadores sentiam-se bem dessa forma, mas também tentávamos ser rigorosos a defender, mas o futebol é o momento e por vezes uma desconcentração individual ou colectiva leva-nos a sofrer um golo. Repare que muitas vezes defende-se mal e não se sofre golos, porque o adversário falha, o GR defende, etc, etc e outras vezes a equipa tem um comportamento exemplar a defender e acaba por sofrer um golo, num grande remate ou outra situação semelhante. A nossa equipa marcou 65 golos e deve ter tido uma % de eficácia na ordem dos 50% e foi essa falta de eficácia que não nos permitiu ficar mais acima na classificação. Disso são exemplos os jogos de S. Torcato, Brito, com o Marinhas e mesmo com o Santa Eulália em casa em que desperdiçamos na 1.ª parte duas grandes ocasiões e que poderiam ter mudado o rumo do jogo.
FafeDesportivo: Quem descobre os novos jogadores para o Arões? O Miguel Paredes, o departamento de futebol, ou alguém do clube vocacionado para essa área?
Miguel Paredes: É um trabalho de todos os elementos do departamento de futebol. Nesse campo numa primeira fase tiveram muita importância, pelo grande conhecimento que têm do campeonato distrital o presidente Pedro Castro e o Director Desportivo Paulo Martins. Nesta última época para além desses dois elementos a equipa técnica já teve um maior envolvimento. Na próxima época será novamente o departamento de futebol, para o qual entra o Vítor Castro e se mantém Paulo Martins, que trabalhará juntamente com a equipa técnica na elaboração do plantel.
FafeDesportivo: Sente que o Arões, com um ou outro reajuste, é clube para assumir declaradamente uma subida de divisão? Ou as pessoas do clube não querem?
Miguel Paredes: Começo por dizer que do querer ao poder vai uma grande diferença. Aquilo que para um clube como o Vieira, Merelinense, Serzedelo, Maria da Fonte, Taipas, Porto D´Ave,  etc, etc é pouco, para nós Arões SC é muito. Acho que esta frase resume na perfeição a realidade do campeonato. Claro que temos outros argumentos que jogam a nosso favor e temos principalmente jogadores dos melhores do campeonato e isso faz-nos estar sempre muito motivados. No entanto, cada vez mais os clubes estarão prevenidos contra a força do Arões e isso será mais uma dificuldade. Na minha opinião as equipas que desceram dos campeonatos nacionais encararam este campeonato de uma forma algo displicente, contando que por virem desses campeonatos teriam um estatuto que lhes permitiria com facilidade fazer um bom campeonato e o que é certo é que tiveram dificuldades em manter-se nesta divisão. Exemplo disso foram o Taipas, Esposende, Marinhas e Maria da Fonte que correram riscos de descer, mas que do meu ponto de vista não vão cometer o mesmo erro, pelo que este campeonato será muito mais difícil no próximo ano, até pela descida do Joane e Ninense.
FafeDesportivo: A “velha” questão dos adeptos de S. Romão e da Portela está devidamente ultrapassada? Sente que há actualmente mais apoio em torno da equipa sénior de futebol?
Miguel Paredes: Nestes dois anos em que estou em Arões, essa é uma questão que nem se coloca. Para mim as pessoas são de Arões e os que vêm ver os jogos são bem-vindos e tudo fazemos para lhes proporcionar as vitórias. Mas deixe-me fazer um reparo, quando as coisas não correm tão bem, precisamos do apoio mais que nunca, pelo que lhes pedimos para nos apoiar principalmente quando as coisas não correm bem, até porque os jogadores têm provado que dão tudo em prol da equipa.
FafeDesportivo: Há um jogo que certamente não vai nunca esquecer. Referimo-nos à eliminação em casa nos quartos-de-final da Taça A.F. Braga perante os Amigos de Urgeses, equipa de um escalão inferior e classificada nos lugares do fundo. Conte-nos como  tudo aconteceu…
Miguel Paredes: Olhe a época do Arões foi muito boa, até histórica, uma vez que obtivemos a melhor classificação de sempre, mas poderia ser ainda melhor. Ficou a mágoa da eliminação  na taça, no jogo frente ao Amigos de Urgeses. O jogo resume-se ao domínio total do Arões SC, com falhas clamorosas na finalização, com bolas nos postes e barras, grandes defesas do GR adversário, ineficácia dos nossos atletas, algumas situações de desleixo e como muitas vezes acontece no futebol, no único remate à baliza do nosso adversário fez um golo aos 85 minutos. Foi uma derrota que ainda não foi digerida e que deixou marcas, até pela presença na final que tínhamos tido na época anterior e queríamos repetir.
FafeDesportivo: Sabemos que se sente bem no Arões, onde tem efectuado um excelente trabalho, e onde é acarinhado e respeitado pelas pessoas. Com a mudança de presidente acha que tudo vai ser exactamente igual?
Miguel Paredes: Em primeiro lugar deixe-me deixar uma palavra de apreço e de carinho para com o presidente Pedro Castro. Foi ele que me levou novamente para o Arões e tivemos dois anos de excelente colaboração. O Clube perde com a sua saída e do meu ponto de vista, o Pedro Castro é a imagem do clube moderno em que o Arões se tornou. Muito do que o clube é e conquistou se deve ao Pedro Castro e suas direcções. Agora, houve alterações, mas a direcção mantem-se e com a entrada do Vítor Castro, as condições de estabilidade necessária à equipa de futebol mantêm-se, sendo que em algumas situações até pode haver alguma melhoria, pelo que penso estarem reunidas condições para um bom trabalho.
FafeDesportivo: Sabemos também que é um treinador muito atento à formação. Trabalha-se bem em Arões? Há algum jogador que mais tarde ou mais cedo possa “encaixar” no plantel principal?
Miguel Paredes: Já disse e volto a repetir, depois da AD Fafe o Arões é o melhor clube do concelho no que respeita à formação. Tem um excelente coordenador, o prof. Ricardo Cunha e está a crescer lentamente. Este ano farão parte do plantel alguns juniores, que ainda têm muito para crescer e para isso têm de ter uma mentalidade em que o trabalho, humildade e espírito de sacrifício esteja presente. No entanto, do meu ponto de vista, será num futuro não muito distante que os jogadores da formação do Arões SC terão condições para entrar num plantel sénior disputando de igual para igual um lugar na equipa. Serão os jogadores que têm feito o trajecto pelos vários escalões, que vão crescendo com a competição que terão mais condições para isso. Deixe-me destacar que este anos conseguimos premiar três ou 4 atletas com alguns minutos em situações muito especiais de alguns jogos,  prémio merecido e justo e disso não fizemos propaganda excessiva como por vezes outros fazem.
FafeDesportivo: A próxima temporada já está em marcha. Vai manter o núcleo duro da equipa? Quantos reforços acha necessários? Quais os objectivos para 2014/15?
Miguel Paredes: Acabamos de acertar a continuidade da equipa técnica e o nosso objectivo é manter cerca de 90% do plantel da época passada e entrarem alguns reforços. Precisamos de 4/5 jogadores de qualidade e que acrescentem algo mais ao nosso plantel, mas como diz o povo o segredo é a alma do negócio. No entanto deixe que mande uma mensagem aos possíveis reforços, mais importante que as questões financeiras é o bem estar que se vive no nosso grupo de trabalho e como também diz o povo, “não há dinheiro que pague a felicidade”.
FafeDesportivo: Acha correcto vermos apenas subir uma equipa no campeonato Pró-Nacional, composto por dezoito formações? Concorda com o modelo?
Miguel Paredes: São as regras e as regras são para serem cumpridas, mas seria mais justo a subida de dois clubes, uma vez que se trata de um campeonato de 18 equipas.
FafeDesportivo: Gostaria de deixar nesta parte final algum agradecimento/crítica para alguém? Disponha…
Miguel Paredes: Gostaria de agradecer em primeiro lugar aos meus colegas da equipa técnica, Prof. Ricardo Cunha e Fernando Ferreira pela excelente colaboração e amizade, ao Pedro Castro e Paulo Martins por confiarem em mim e estarem sempre do nosso lado e à restante direcção do Arões SC por me tratarem da forma como sempre o fizerem. Deixo ainda um agradecimento aos sócios e adeptos pelo apoio, bem como às nossas famílias, quer dos atletas, quer da equipa técnica e da direcção, pela compreensão e apoio que nos deram. Por último e ainda mais importante, aos nossos atletas um muito obrigado por aquilo que sempre foram, isto é, excelentes jogadores e grandes homens.

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