- Não sei como e quem fez o plantel da época passada
- No futebol não acredito em milagres. Acredito sim no empenho e no trabalho
- Os índices de confiança aumentaram e a qualidade sobressaiu
- Não me sinto o melhor, mas sinto que tenho mostrado trabalho
- Dizem que sou humilde de mais...prefiro ser assim, genuíno
- Agradeço ao Zé Artur, ao Ricardinho e ao Beto, por tudo o que fizemos juntos
- Não estamos no patamar mais alto da A.F. Braga, vai para uma década
- Agradeço à minha mulher, uma mãe fantástica, que às vezes faz o papel de pai.
FafeDesportivo: Carlos Salgado entrou para o O.F. C. Antime à 19.ª
jornada, porque a equipa não estava bem, embora nunca estivesse em causa a
descida. Como encontrou a equipa em termos físicos e psicológicos?
Carlos Salgado: Não vou tornar publico aquilo que achei, até por
respeito ao meu colega. O que disse na altura, é que nem tudo estava mal, que
havia certamente coisas boas. Mas como é óbvio e legitimo, tenho as minhas
ideias, a minha forma de trabalhar, e foi isso que tentei implementar e
transmitir… Felizmente com sucesso.
FafeDesportivo: Dizia-se à boca cheia nos meandros do futebol, que
o OFCA era a equipa da Divisão de Honra com melhor plantel. A prova é que a
maioria vai continuar. É mérito do seu antecessor, Francisco Castro?
Carlos Salgado: Não posso responder com verdade a esta pergunta.
Como sabe não estava no OFCA no início da época passada, e por isso não sei
como e quem fez o plantel. O que sei sim, é que este ano será formado pela
equipa técnica e pela direcção. O que sei também, é que falaremos a uma só voz,
e sabemos, cada um no seu papel, o que temos de fazer e o que procuramos. Não
sei como era antes da minha chegada, mas actualmente deixamos de falar no “eu”
e só falamos no “nós”.
FafeDesportivo: Estreou-se com uma derrota em Santo Adrião,
vencendo depois em casa o Delães, mas voltou a perder em Amares. A equipa
continuava a perder. O que fez para alterar isto?
Carlos Salgado: Trabalho! Continuar a acreditar que estávamos a
trabalhar bem. Lembro-me de dizer que tínhamos perdido em Amares, mas tínhamos
ganho uma equipa. Perdemos em casa do campeão, com menos um desde a meia hora,
e sofremos o golo da derrota a 10 minutos do fim. Foi injusto e doloroso, mas
deu-nos força para os restantes jogos.
FafeDesportivo: É verdade que se seguiu uma fase em que a sua
equipa ganhou uma dinâmica de vitória, Emilianos, Campelos, S. Cosme, Louro e
Ruivanense, e já antes, Delães e Urgeses. Onde está o segredo?
Carlos Salgado: Como referi atrás, continuando a trabalhar. No
futebol não acredito em milagres. Acredito no empenho, na vontade, no esforço
que colocamos em cada treino. Depois a equipa soltou-se, os jogadores
perceberam que tinham capacidade para mais e com a grande dedicação de todos
conseguimos realizar bons jogos.
FafeDesportivo: Para além das supracitadas vitórias, o Antime
também esteve mais assertivo na finalização. Nos jogos que orientou, doze, a
equipa marcou 21 golos, menos um que nos outros 18 jogos…
Carlos Salgado: Julgo que quem joga melhor, tem mais hipóteses de
finalizar. Ou seja, se a qualidade do nosso jogo evoluiu é normal que a equipa
marque mais. Parece-me que estes dois traços são coincidentes na análise a
qualquer equipa. A juntar a isto, o índice de confiança também aumentou e a
qualidade dos jogadores sobressaiu ainda mais.
FafeDesportivo: É por demais evidente o bom trabalho que realizou
neste regresso ao OFCA. Sente que se tivesse chegado mais cedo umas jornadas, o
Antime poderia chegar mais longe?
Carlos Salgado: Não me quero atrever a pensar assim. Na minha
carreira sempre dei a cara por aquilo que fiz. O que fiz foram 12 jogos, alguns
onde fomos fantásticos, e outros onde não fomos tão competentes. Assim sendo,
só posso fazer o balanço deste último terço do campeonato. Modestamente, acho
que foi positivo, mesmo achando que em alguns momentos tínhamos a qualidade e
obrigação de ter conseguido mais.
FafeDesportivo: É o treinador de Fafe com melhor curriculum. Sendo
um jovem, já conta com duas subidas e uma presença nas meias-finais da Taça
A.F. Braga. É bom viver com estes êxitos mas, vamos ter certamente um Carlos
Salgado a reforçar o seu estatuto no futebol. Para quando?
Carlos Salgado: Esta é uma pergunta incómoda. Não me sinto o
melhor, sinto sim, que tenho sido capaz de demonstrar trabalho. Há colegas
treinadores que são fantásticos também, e o objectivo de cada equipa promove as
capacidades do treinador. Por exemplo, garantir uma manutenção pode ser um
excelente trabalho, depende do contexto e como referi, dos objectivos de cada equipa.
Assim como não me custa afirmar, que o Miguel Paredes tem feito um excelente trabalho
no Arões. Alguns dizem que sou humilde demais, eu prefiro ser assim, genuíno, e
sem medo de afirmar aquilo que sinto e penso. E no final deixo que os outros
façam o seu julgamento.
FafeDesportivo: No tempo que esteve parado, sem clube, limitou-se a
ver jogos de futebol, ou intensificou os seus conhecimentos de outras formas?
Carlos Salgado: Fiz aquilo que tenho procurado fazer sempre ao
longo da minha carreira, estar atento ao que se vai fazendo, especialmente em
patamares superiores. Aprendi cedo, que o treino “dos outros” nunca pode ser o
meu treino. Daí observar, aprender, procurar estar actualizado, mas pensar o
meu treino e o meu jogo pela minha cabeça. Portanto a aprendizagem é contínua,
mas a prática e metodologia usada é pessoal.
FafeDesportivo: Sabemos que o OFCA é um clube que faz muito bem o
trabalho de casa. Isto é, a si compete-lhe somente treinar um grupo de homens e
jogadores. Este factor não o faz pensar noutros voos? Numa subida de divisão?
Carlos Salgado: Se fosse só a organização de um clube a subir de
divisão, o OFCA, não precisava de treinador nem jogadores para nada, pois esta
é excepcional. Pela minha experiência, há muitos outros factores importantes para
conseguir pensar em subir. Obviamente que um clube organizado, onde o treinador
e jogadores só se preocupam em treinar e jogar tudo fica mais fácil… Mas como
digo, só a conjugação de várias variantes, faz de um clube candidato, ou não.
FafeDesportivo: É apelidado pelo Villas Boas de Fafe. Esse epíteto
já não lhe foge. Isto não faz com que as suas responsabilidades aumentem, ou
seja, sente que está proibido de errar menos que outros treinadores?
Carlos Salgado: Onde está o dinheiro? (risos…) Eu fico honrado com
a comparação, mas como já disse as diferenças são tão grandes que só posso ver
esse elogio como uma mera brincadeira. Por isso, mal de mim se vivia com esse
peso. Até porque o verdadeiro Vilas Boas, também já errou, já perdeu, já foi
despedido… Se há características que me definem, elas são a tranquilidade e a
confiança…
FafeDesportivo: Veio para Antime sozinho, ou seja, sem nenhum
adjunto da sua confiança. Isto é sinónimo que está satisfeito com a equipa
técnica que tem ao dispor…
Carlos Salgado: Na altura expliquei que as pessoas que estavam no
clube, Zé Artur, Ricardinho e mais tarde Beto, tinham um conhecimento do
plantel e do clube que eu não tinha. O Zé e o Ricardo estavam desde o início e
por isso conheciam profundamente os jogadores, e a sua forma de jogar e
trabalhar. Se as coisas resultaram, se as nossas conversas e decisões são
uniformes, não havia que mudar. Eu é que agradeço publicamente tudo que eles
fizerem neste tempo que estamos juntos.
FafeDesportivo: Diga-nos então com toda a frontalidade que o
caracteriza, quais são os objectivos do Antime para a próxima temporada. Sem
receios…
Carlos Salgado: Fazer o melhor Campeonato possível! A única
promessa é que tudo faremos para discutir os três pontos em cada jogo e honrar
sempre a camisola do OFCA. A sua subtileza e desafio na pergunta, não me faz
escorregar em promessas fáceis… Percebo a inteligência da pergunta, mas deixo
que outros caiam nela. Nós somos o OFCA que ficou em 5.º, e que já não está no
patamar mais alto do futebol distrital, vai quase para uma década…
FafeDesportivo: Sabe que é neste momento um homem em estado de
graça. As pessoas quererão ouvir de si alguns agradecimentos, ou eventuais
críticas que tenha a fazer…
Carlos Salgado: Agradecer a todos os jogadores que comigo terminaram
a época em Antime. A todos sem excepção, um obrigado e um pedido de desculpas
se em algum momento fui injusto.
Depois, restante equipa técnica, ao nosso
massagista e direcção pela confiança e por tudo fazerem para que juntos
possamos fazer do OFCA um clube maior e melhor.
E por fim, à minha mulher. Uma
mãe fantástica, que atura as minhas angústias, que pela minha vida profissional
e pelo futebol, às vezes tem de fazer de pai também… E por uma questão de
justiça, nestes anos de treinador se calhar já é tarde este agradecimento
público.
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