quinta-feira, 10 de abril de 2014

Treinadores da Formação, Primo e Carlos Careca falam do futebol juvenil...

          Fonte: ADF

Pedro Guimarães «Primo» e Carlos «Careca» falam do Futebol Juvenil

A ADFafe.pt à conversa com dois treinadores dos escalões de formação do nosso clube Pedro Guimarães, treinador da equipa de Juvenis B, conhecido no mundo do futebol como Primo. Vamos estar também com Carlos “Careca”, treinador dos Iniciados A. Estaremos à procura de pontos comuns e de diferenças entre estes dois treinadores
Bem vindos, estamos hoje aqui para falarmos um pouco sobre a formação de atletas, em especial no caso da Associação Desportiva de Fafe.
ADFAFE.pt – Como vêm o atual momento da formação do nosso clube? Estamos no bom caminho?
Carlos – Acho que estamos. Há muito mais a fazer mas acho que estamos. Não podemos é andar para trás. É continuar a melhorar, ver os aspetos que são positivos do que se fez até agora, e melhorar aquilo que for menos positivo. Estamos no bom caminho mas não podemos parar senão vamos para trás.
ADFAFE.pt – Pedro, partilhas da opinião?
Pedro – Sim, eu estou de acordo com o Carlos. É um progresso que está em fase crescente e para isso é aproveitar as coisas que se têm feito e melhorar aquilo que está menos bom no clube e na formação… mas está numa evolução muito boa.
ADFAFE.pt – Qual é que acham que é o papel mais importante de um treinador quando trabalha com jovens?
Carlos – Acima de treinador tem que ser um amigo. Não é só chegar aqui e treinar. Temos que ser amigo deles… quase pais. Nós passamos mais tempo com eles do que os próprios pais, em geral, passam com os miúdos. Muitas vezes eles aparecem aí com problemas e nós temos que ter a sensibilidade de ver quais são os problemas que eles têm. Falar com eles para eles estarem à vontade connosco para nos dizerem. Por vezes, há situações que os treinadores resolvem mais facilmente que os pais porque eles sentem-se mais à vontade, muitas vezes, com os treinadores. Temos é que os pôr à vontade. Eles sentem-se bem com os treinadores, têm confiança em nós, e depois também trabalhamos a parte do futebol muito mais facilmente. Acho que esse é o papel fundamental do treinadores da formação. A formação não é só treinar futebol mas sim fazer Homens que hoje é mais difícil. Neste momento é o mais difícil no panorama em que estamos. É fazer com que, depois mais tarde, venham os jogadores.
ADFAFE.pt – Pedro, também partilhas desta opinião na intimidade, neste espaço com os atletas?
Pedro – Sim, eu vejo o futebol como um desporto que os miúdos gostam estar. Visto isto, eles vêm um treinador como um modelo. Tem que ser um modelo para eles e fazer parte dum suporte ao desenvolvimento, tanto a nível futebolístico, como a nível pessoal. Competências pessoais e sociais, principalmente, porque eles aqui adquirem competências sociais porque têm que se integrar num grupo. Adquirem competências pessoais porque têm que ter comportamentos corretos, têm que ter condutas. Estou de acordo com o Carlos que estamos aqui para formar Homens. Se for possível aliar isto à parte futebolística, ótimo, mas pricipalmente, sermos um suporte forte para aquelas crianças. Nós sabemos, como o Carlos disse, que eles comentam-nos coisas que se calhar em casa têm medo de comentar. O treinador tem que ser o amigo, o apoio, o ombro, o condutor, de muitos e tem que ter essa vertente que é muito importante para o desenvolvimento da sua personalidade. Eles estão numa fase de formação de personalidade e se eles não conseguem ter essa formação bem, com valores, certamente vão chegar a seniores, por exemplo, e não vão saber estar no futebol senior mas também vão chegar à vida adulta e também não vão ser bons cidadãos. Portanto estamos aqui como um pilar para o seu desenvolvimento.
ADFAFE.pt – Vocês fazem parte do departamento de futebol juvenil. Sentem-se integrados num departamento ou acham que está tudo dividido por equipas?
Pedro – Para mim, como ainda estou a jogar nos seniores, tem sido… como é que hei-de explicar isto… tem sido mais satisfatório, por exemplo, treinar nos seniores com miúdos que eu treinei. Isto faz com que haja uma relação automática com os outros escalões. Muitos deles estão nos juniores e treinam comigo. Até acho engraçado a maneira como me tratam tanto no corredor como no campo. Acho que todos nós, todos os treinadores do futebol juvenil estão em sintonia com os outros escalões. Estão em sintonia com todos os atletas porque passamos por eles, cumprimentamos, vimos ver jogos de todos os escalões, os próprios treinadores falam dos atletas, ou seja, isto é uma equipa, é o Fafe. Os escalões todos são o Fafe! É quase impossível não estarmos ligados, e não nos interessarmos pelo desempenho e pelo sucesso dos outros escalões.
Carlos – Eu estou aqui há três anos e este ano talvez seja o ano em que a equipa dos treinadores da formação estão mais unidos. Quando aqui cheguei, há três anos, não era assim. Havia mais do que um grupo. Eu cheguei de novo, andei ali um pouco aos saltinhos. O ano passado esteve melhor um bocadinho. Acho que o grupo que está este ano, não sei, ou os mais velhos encaminharam-nos… sei que este ano o grupo de treinadores são mais unidos. Falam todos uns para os outros. Quando o escalão inferior vão buscar os jogadores, atletas, falam com o treinador. Nos outros anos não se passava muito isso. Havia um pouco de rivalidade entre treinadores, entre atletas mesmo, às vezes até entre equipas A’s e equipas B’s. Havia uma má imagem. Este ano não. É um grupo muito, muito forte. Todos em sintonia. Têm algumas divergências, modos de treinar diferentes, maneiras de ver futebol totalmente diferentes mas lutam todos pelo mesmo, que é para ser um Fafe maior e melhor.
ADFAFE.pt – Sois a favor de um trabalho de formação com aposta em equipas B’s ou procurar a melhor seleção de atletas e apostar somente numa equipa por escalão?
Pedro – Eu sou favor das equipas B’s e dou logo a primeira razão. Se nós estamos a trabalhar com grupos, quanto mais tempo esse grupo estiver unido melhor. Se nós fizermos uma seleção só para uma equipa, ano após ano, estamos constantemente a formar grupos. Isso quem não tira a vantagem é o clube. Uma coisa é nós termos atletas, ou um grupo de atletas, que trabalha durante seis, sete anos, desde pequeninos até aos juniores. Outra coisa é nós estarmos sistematicamente a formar grupos. Acho que o Fafe está no caminho certo com as equipas B porque há uma continuidade desses grupos. Há se calhar a possibilidade… não é se calhar! Há a possibilidade de melhorar ano a ano esse grupo de jogadores, com a entrada de atletas ou a dispensa de alguns, ou seja, para que no último escalão, nos juniores, que é quando eles têm que dar o salto para seniores, estejam munidos com todas as competências necessárias para terem uma carreira futebolística. Isto é importante para o Fafe porque vamos trabalhando ano a ano, todos os anos com o mesmo grupo, vamos identificando dificuldades e melhorando essas mesmas dificuldades.
ADFAFE.pt – Carlos, também vês assim?
Carlos- Estou de acordo, e não só. Havendo duas equipas, A e B, estão sempre em competição muitos mais jogadores. Senão só estavam 20 e os outros 20 ficavam por aqui. Não jogavam. Jogavam numas divisões totalmente diferentes do que as do Fafe. A maior parte dos jogadores que vêm de outros clubes, de clubes inferiores, quando vêm para o Fafe sentem muita dificuldade em se adaptar. É completamente diferente. O ritmo é outro, os treinos são outros, é tudo… o próprio ambiente é outro. Então com duas equipas, é como diz o Primo, os grupos são formados, depois há sempre o fim do ano, há sempre aquelas lacunas para as quais vêm jogadores de fora. Vamos preencher com esses jogadores, essas lacunas, e vai-se melhorando até chegar aos juniores. Há uns anos para cá, com as equipas A’s e B’s, o trabalho está cá, as equipas estão todas… umas para subir, os juniores no nacional, os juvenis A estão nos quatro primeiros lugares, os juvenis B estão em segundo, os iniciados A estão na luta. Está tudo. Há sempre um outro jogador da equipa B que, quando tem qualidade ou quando acrescenta alguma coisa à equipa A, é chamado e têm correspondido. Acho que é muito bom quando há mais jogadores em competição.
ADFAFE.pt – Quais as maiores dificuldades no planeamento dos treinos?
Carlos – São os campos de futebol. São os terrenos de jogo, que nós, às vezes, queremos treinar e não temos o campo disponível como nós queríamos ou devíamos ter. Nós planeamos um treino e temos que inverter o treino e arranjar outro treino para fazer porque… ou não temos o número jogadores, que é uma das dificuldades também que o Fafe tem. Os jogadores ainda não têm essa mentalidade, em que vem treinar e depois… há uns casos, sempre esporádicos que faltam porque tem um exame, ou estão doente, tudo bem; mas muitas vezes faltam. Eu, no meu escalão, não me posso queixar mas vejo os outros escalões em que o treinador tem um plano de treino com x jogadores, a fazer isto e aquilo e faltam. Depois temos que mudar tudo. Isto é uma dificuldade. O terreno de treino, que nunca temos o que devíamos ter. Uma vez por semana, que eu defendo isso, ter o terreno de jogo, o campo todo, para treinarmos. É futebol de 11 e não futebol de 7. É bom treinar em terrenos reduzidos mas o jogo é todo o campo. Muitas vezes para ajustar posições, zonas de pressão e nos terrenos reduzidos não conseguimos pôr isso em prática.
ADFAFE.pt – Pedro sentes a mesma dificuldade?
Pedro – Sim. As questões do espaço e questões principalmente com a ausência de atletas aos treinos, são as maiores dificuldades que eu encontro. Eu sei que eles estão numa fase que têm as atividades extra escolares, têm que estudar para testes, para exames, para essas coisas todas e muitas vezes nós até facilitamos nesse aspeto. O principal problema que eu vejo é também em questões de espaço porque o futebol, como o Carlos disse e muito bem, é um campo de onze, não é em meio campo. Os miúdos, para ter percepção de campo inteiro, precisam de treinar em campo inteiro. Isto é uma dificuldade que nós vemos… eu vejo nos meus. Quando eles passam para o campo grande têm dificuldade em se organizar, em pressionar em bloco. O campo é muito maior que naquele espaço reduzido. É óbvio que no futebol utilizamos muito o espaço reduzido mas também temos que ter essa alternativa de os formar em campo grande. São as grandes pechas que eu vejo na dificuldade em planear treinos.
ADFAFE.pt – Vocês têm trabalho que é solicitado para além dos treinos, que importância é que dão a esse trabalho? Trabalho, relatórios…
Carlos – Não sou eu que faço os relatórios, normalmente são mais os adjuntos. Eu falo por mim. É mais o adjunto que faz esse tipo de relatórios mas acho que é muito bom porque temos que saber a presença de treinos, recuperações de bolas, tudo, tudo o que se faz. Tudo o que é solicitado e que o coordenador pediu… é mais o adjunto que faz.
ADFAFE.pt – Consideras uma mais valia, esse trabalho?
Carlos – É uma mais valia porque muitas das vezes vamos analisar tudo. É algo de fundamental porque há uma grande diferença entre vir treinar e vir ao treino. Muitas das vezes, os atletas não veem treinar ou não veem ao treinar. Isto é um instrumento que nós temos para nos guiarmos. Sabermos quem falta mais, quem não falta, quando é que falta, em que alturas é que falta. É a análise que se faz, que se pede para fazer sobre o futebol. Passes errados, essas coisas todas. Muitas vezes há jogadores em campo que recuperam muita bolas mas perdem logo a seguir. Temos que fazer essa margem. Ver quem é que na verdade ganha mais bolas e que perde menos, que isso é o essencial, e não ganhar muitas e perder mais que as que ganha.
ADFAFE.pt – Pedro consideras uma mais valia, esse trabalho?
Pedro – Sim, eu estou como o Carlos diz, delegamos muito esse trabalho para os adjuntos, e é essencial. Muitas vezes, até para confrontar o atleta porque eles não acreditam que falharam 10 passes ou 15 passes. Não acreditam que têm mais minutos que outros. Isso ajuda-nos a nós vermos qual é evolução daquele atleta e também para os confrontar, para eles criarem até os próprios objetivos. Se disserem assim, “se eu falhei 10 passes, eu não quero falhar 10 passes, quero falhar 5″. Eles próprios criarem esses objetivos. Para o clube é ótimo porque vemos a progressão do atleta. Analisamos mais ao pormenor as falhas e como é que devemos alterar essas falhas. Acho que é um trabalho essencial para o clube.
ADFAFE.pt – Qual o aspeto atual mais positivo no funcionamento do atual departamento de formação e qual o principal aspeto que gostariam de ver melhorado para o próximo ano?
Pedro – Ora bem, aspeto positivo no funcionamento… É óbvio que há muitos fatores associados. Para isto funcionar bem também é preciso as pessoas terem material. Falamos aqui de uma das pechas do treino que era o espaço. Se nós temos estes escalões todos também é difícil para quem coordena meter as equipas todas a treinar. Por isso é que há esta divisão do terreno. Uma das coisas para funcionar melhor seria mais espaço de treino, por exemplo. Outra questão, por exemplo, sei lá… o tipo de material. Cada escalão tem uma série de bolas mas umas bolas que têm que dar para o ano inteiro. Eu se quiser fazer um treino com vinte bolas, por exemplo, tenho que andar a pedir ao colega da equipa A ou ao colega dos iniciados A, a ver se me empresta as bolas para eu utilizar. Eu sei que isto são questões materiais, eu que isto são dificuldades econômicas do clube, eu sei que isto envolve outros fatores que se calhar as pessoas que estão a coordenar não têm mais possibilidades. Dão o que têm e esforçam-se pelo o que têm. Umas das coisas que tem que melhorar em questões de materiais é mais bolas, mais coletes, ou seja, mais condições para o exercício. Estão muitas crianças aqui a trabalhar. É preciso muito material, muito espaço. Há 20 anos atrás ou há 25 anos atrás, mais ou menos, treinava, por exemplo, 5 vezes por semana. Era impossível um escalão, aqui em Fafe, treinar 5 vezes por semana. Não tinha espaço para treinar.
Carlos – A ideia é igual. Normalmente nós vamos para um treino e tenho que pedir bolas. Já não é a primeira vez que peço ao Primo, ele pede a mim. Até sou eu que peço sempre mais… (risos de ambos) mas é normal que falta material. Já não é o melhor mas tem que ser. As dificuldades financeiras são grandes e não só. Há dificuldades também humanas. Há pouco pessoal a trabalhar na formação. Vemos aí 3, 4 pessoas a trabalhar diariamente e isso é quase impossível que funcione 100%. Já muito fazem eles e temos que dar graças por ainda estarem cá a trabalhar. Os diretores trabalham de graça. O trabalho é voluntariado e isso não é fácil. A questão do material, sabemos as dificuldades do clube… vamos andando. (risos de ambos)
ADFAFE.pt – Apesar da equipa ser constituída na sua totalidade por atletas de 1ª ano de juvenis, tem efetuado um excelente campeonato. Acreditavas que seria possível realizar estes resultados?
Pedro – Nós nunca sabemos muito bem como é que a época vai correr. Eu também não sabia muito bem o campeonato onde iria estar. Agora como já tinha visto aquela equipa a jogar e acompanhava, sempre que me era possível os iniciados A do ano passado, que este ano passaram para Juvenis B, sei que havia e tinha bons elementos. A partir do momento que eu comecei a trabalhar com eles vi que tinha ali um grupo com muita personalidade. Eu posso dizer que tenho ali guerreiros, que é muito importante no futebol. Tenho ali um grupo. Agora eu sei que tenho lacunas. Aquela equipa tem muitas lacunas. Isto vai dar a possibilidade ao Fafe para o ano tapar, ou tentar tapar essas lacunas da equipa. Aliado à qualidade que eles têm, aliado à personalidade que eles estão a formar, ao espírito de grupo que eles têm, fui vendo que podiam ter um bom resultado a nível de grupo, de classificação, de resultados. Estão bem classificados, estão em segundo lugar. Poderiam ainda estar melhor. Mas pronto. Para mim é satisfatório. Já lhes disse isso a eles em balneário e acredito, e digo agora publicamente, se vai sair para a rua, acredito que aquele grupo, um dia mais tarde, este ano ou para o próximo ou a seguir, vai ter sucesso. Acredito muito que aquele grupo vá ter sucesso. Uma das coisas mais importante do futebol, que eu vejo, é o espírito de sacrifício, é o trabalho diário e é a qualidade. E aquele grupo tem estas três vertentes. Isto agarrado e trabalhado sistematicamente, como eles trabalham, mais tarde ou mais cedo, vão ter sorte e vão ter sucesso.
ADFAFE.pt – Depois de um inicio de época complicado surgiram mais de uma duzia de vitórias consecutivas agora intercalada com um empate. A que se deve este estrondosa sequência de resultados positivos? Quais foram as dificuldades que existiram?
Carlos – O primeiro problema que me deparei logo foi no princípio em Agosto. Mal comecei a pré época tinha 12 jogadores na primeira semana. Esses mesmos 12 jogadores, na segunda semana iam de férias e vinham outros. E andamos assim quase um mês. Nunca tive a equipa toda. Outra das mentalidades que está muito mal aqui no Fafe, a competição começa e o jogador tem que saber aquilo que quer. Eu sei que é muito complicado, eu também não fui de férias. Eu não fui de férias porque não pude, senão ia de férias e não fui. Acabamos por, nas primeiras semanas, não fazer quase nada. Nós tinhamos o trabalho planeado para uma semana depois vinham os outros e já ficavam atrasados. Isso foi um fator. O segundo fator, no meu entender, foi entrarem 5 jogadores novos que vinham de outros grupos e que muitos deles não sabiam, não estavam habituados a jogar como nós jogamos aqui. A maior parte da equipa é do ano passado mas esses 5, que vieram trazer qualidade, nos primeiros meses não se adaptaram muito bem à equipa. Não eram uma equipa muito unida. Haviam grupinhos. Há medida que se foi andando foi-se formando uma equipa e agora são uma equipa. Há sempre um caso ou outro, mas têm sido uma equipa. Nos últimos dezasseis jogos foram catorze vitórias, um empate e uma derrota. Isto deve-se ao trabalho que se fez. Os jogadores, mais tarde, aperceberam-se que só trabalhando para o mesmo é que conseguíamos ganhar os jogos. Havia ali muito jogador que jogava muito individual, esquecendo-se que o futebol é um jogo coletivo. Então foi preciso andar, trabalhar, trabalhar, e agora acho que conseguimos. É pena, vamos ver, vamos lutar até ao fim, mas… É verdade que os sete primeiro jogos foram os que nos penalizaram senão nós agora estávamos mesmo em primeiro, com a subida quase garantida. Mas meu amigo… futebol é assim. Eles agora que aprendam com os erros. Ainda são muito novinhos e, nos próximos anos, que aprendam que têm valor, têm qualidade mas que têm de trabalhar.
ADFAFE.pt – Pedro, nona época com a camisola do Fafe, natural de Guimarães, qual o teu sentimento para com este clube?
Pedro – Bem, eu costumo dizer à minha mulher que vou para a casa do meu avô. De facto, joguei aqui há bastantes anos atrás. Voltei cá e já estou aqui à 5 ou 6 anos. Sinto-me bem. Com eu digo à minha mulher, vou para a casa do meu avô, é uma casa onde me sinto bem. É óbvio que isto se deve muito à receptividade que esta cidade teve comigo. Deve-se muito ao carinho que me deram, ao apoio que me deram, ao valor quem me deram, não é? E claro que nós estando num sítio que somos elogiados, que somos bem tratados, que criamos afetos, que criamos amizades, nos sintamos bem. Eu não diria só aqui ao Fafe, não é? Eu diria também à cidade de Fafe. Já trabalhei e ajudei noutras instituições, também daqui de Fafe, e sempre fui bem tratado em todas as que estive. Relativamente ao Fafe, mais do que uma casa de um avô não posso dizer. Sinto-me bem e agrada-me estar aqui.
ADFAFE.pt – És licenciado em Psicologia e exerces essa profissão. Por quê esta opção? O teu objetivo é continuar a ser treinador ou será esta uma saída profissional para a carreira de futebolista?
Pedro – Relativamente à psicologia. Nós temos aprendizagens, temos modelos, temos gostos, e na adolescência foi o que me aconteceu. No décimo ano, tive uma cadeira de psicologia, tive um modelo, um professor que me identifiquei e comecei a gostar daquela matéria. Continuei os meus estudos e ficou-me sempre o gosto pela psicologia. Ao longo destes anos todos foi difícil. Era profissional de futebol, tinha pouco tempo, mas fui-me formando, mesmo pelo gosto da psicologia. Hoje, cada vez gosto mais da psicologia e cada vez mais dou valor à psicologia. Sei que me moldou muito também, este estudo ou esta formação que eu tive na área da psicologia. Agora se é uma possível saída para mim profissional, se eu quero ser treinador… Eu costumo dizer que gosto de viver o meu dia a dia. É óbvio que nós criamos projetos. Eu tenho formações em várias áreas, ou seja, tenho setas apontadas a vários setores e a várias modalidades. É o meu dia a dia que me vai dizer se vou ser treinador, se não vou ser, se vou ser psicólogo. Tento é conciliar estas duas grandes áreas de que eu gosto. Sendo na área de jogador de futebol, que está a terminar. Ser treinador que está a iniciar. Não sei como é que vai ser. Sempre que me for possível vou andar aqui porque é uma área que eu gosto, que é o futebol.
ADFAFE.pt – Agora vamos fazer aqui uma pequena brincadeira e eu vou pedir ao Carlos que faça uma pergunta ao Pedro.
Carlos – Que pergunta é que lhe faço… também a ver um pouco com psicologia. Gostava de saber de tudo o que ele fez com a psicologia e agora a treinar no futebol, qual é a facilidade que tem no relacionamento com os miúdos? No fundo a psicologia no futebol, já existe, a psicologia desportiva, não sei qual é a área dele, mas acho que não é fácil para lidar com a formação. Se é ou não mais fácil para trabalhar na formação.
Pedro – Ok, estás a tentar ligar a psicologia ao desporto. É óbvio que se nós estamos no desporto a treinar com crianças, que são seres humanos, a psicologia trata de seres humanos. O que eu te digo é que cada atleta é diferente. Tu tens que trabalhar de maneira diferente com cada um. Acho que o mais importante dum treinador na época é conseguir motivar-los para o todo. Como tu há bocado acabaste de dizer, desde que eles perceberam que estavam todos a remar para o mesmo sítio a coisa começou a funcionar. Desde que tu consigas que eles tenham um compromisso com eles próprios, os motives, ou cries motivação individuais, grupais, para eles é ótimo. Não podes berrar da mesma forma ou falar de mesma forma para um atleta e para outro, porque eles são diferentes e as reação que têm são diferentes. Tens que aceitar que um é mais brincalhão e o outro leva aquilo mais a sério. O que tens é fazer ver ao brincalhão quais são as consequências positivas e negativas daquele ato mas basicamente… eu não aplico isto porque não dá certo. Eu sendo treinador e psicólogo ao mesmo tempo não dá certo, ok! Agora eu posso utilizar algumas das estratégias da psicologia. Fazer com que eles façam objetivos, criem objetivos, porque eles não têm objetivos. Se perguntares a qualquer atleta que tu tenhas, qual é o teu objetivo a curto, médio e longo prazo. Eles não têm! Quais as tuas dificuldades? É o passe? É a receção? É a tua auto confiança? Como é que tu melhoras isto? Vais te concentrares mais? Por exemplo, eu erro 10 passes por jogo. Vou-me motivar para errar menos. Isto leva-os a cometer menos erros porque vão estar mais concentrados. É o que eles têm que saber lidar com o grupo, não é? Objetivos de grupo. Faço aquelas brincadeiras dos cinco jogos a ganhar tem uma recompensa, ou dois jogos a ganhar tem uma recompensa. Depois depende de como é que estamos no campeonato e trabalha-se um bocadinho com estas coisas. Fazia, já fiz o ano passado, eleger, por exemplo, qual foi o melhor jogador da equipa. Toda a gente gosta de ser elogiado pelos pares. Eles, inconscientemente, vão-se motivando mais nos jogos porque querem ser elogiados pelos colegas. Depois no dia seguinte vai ser eleito o melhor jogador e eles todos ficam contentes por serem elogiados. São algumas pequenas estratégias que se podem arranjar com esta área. Carlos, isto o essencial para ti é perceberes a personalidade de cada um, motivá-los para o grupo. Agora, a psicologia, teria que ser um psicólogo a trabalhar individualmente com o atleta e com o grupo. Eles têm que ter ver como treinador e não têm que te ver como psicólogo.
ADFAFE.pt – Pedro que pergunta é que gostarias de fazer ao Carlos?
Pedro – Eu estou à pouco tempo aqui Carlos. Estou há pouco tempo no futebol como treinador. Acho que tens mais tempo de treinador do que eu e trabalhas com miúdos ainda, ou sempre trabalhaste, penso eu, com miúdos mais novos, do que com os que eu trabalhei. Eu trabalhei sempre com juvenis…
- (Carlos interrompe) Eu andei desde traquinas até juvenis -
Quais são as grandes dificuldades que tu encontrastes nestes anos todos que trabalhaste, a nível tático e a nível técnico? Nos principais grupos em que estiveste quais foram as grandes dificuldades táticas e técnicas dos teus jogadores?
Carlos – Encontrei muitas. Quando se começa nos pequeninos, uma pessoa tem que ensinar tudo. Eles não sabem nada, zero! Quando cheguei aos iniciados deparei com dificuldades enormes para iniciados. Quando normalmente se começa em traquinas, faz-se muito trabalho. Benjamins também. Depois chegam a infantis e o trabalho já é muito mais apurado tecnicamente, taticamente, mas eu cheguei aos iniciados, há três anos, com a que é atualmente a tua equipa, e que tinham muitas dificuldades táticas e técnicas. Por exemplo, jogo de cabeça, não jogavam. Haviam jogadores que tinham muitas dificuldades de coordenação. Acontece que nos mais novos é muito mais complicado de trabalhar que nos mais velhos. Eu sinto-me bem de iniciados para cima. De iniciado para baixo é mais complicado porque nós temos que lhes ensinar tudo. Há miúdos que vêm de clubes que não lhes ensinam nada. Mesmo este ano, eu tenho iniciados que nem um alongamento sabiam fazer. Nunca alongaram na vida deles. É o meio que temos e esses clubes pequeninos… não era o meu caso… eu estava no Fornelos e os meus faziam tudo. Já vinham preparados para o Fafe e para o Guimarães, chegavam lá e entravam. Vejo outros clubes que nem um alongamento fazem. Dão duas voltas ao campo e não sabem fazer uma receção orientada. Não sabem fazer nada. Até a inciados tenho que ensinar a fazer uma receção orientada. Se te disser que no Fornelos, como já trabalhei com estes escalões pequeninos todos, haviam jogadores que chegavam aqui e sabiam fazer isso porque eu lhes ensinava. Essa foi a minha maior dificuldade e de certo vai ser daqui a uns anos. Há pessoal que está a trabalhar com esses clubes pequeninos e não têm formação, outros nunca jogaram futebol. Mesmo com muito força de vontade, fazem o trabalho deles, mas muitas vezes também o fazem mal. Depois quando chegam aqui ao Fafe… Eu pensei, quando vim para o Fafe, que não me ia deparar com esses problemas. Há outros clubes aí que também trabalham bem na formação, mesmo nas pequenas aldeias, há outros que não. Simplesmente é correr e jogar futebol e vão andando. Quando chegam a umas divisões mais acima é que deparam que afinal não é assim. Têm que fazer uma receção orientada e eles não sabem fazer. É preciso jogar de cabeça e eles não conseguem fazer. Pensei que isso não encontrava no Fafe mas encontrei. Foi a minha maior dificuldade. Mesmo taticamente não sabiam onde tinham que pressionar, como é que faziam… e então temos que lhes ensinar tudo. Muitos deles não conseguem captar e mais tarde aplicar. Como isto tem sido a partir de iniciados, eu acho que quando chegarem a juniores já estão melhores um bocadinho.
(risos de ambos)
ADFAFE.pt – Muito obrigado a ambos e boa sorte para o resto de campeonato.
Pedro – Obrigado.
Carlos – Vamos lá ver…

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