FafeDesportivo à conversa com Ivo Castro, Coordenador do departamento de futebol de formação da A.D. Fafe
- Sinto gozo nos resultados conquistados
- Os meus parabéns para o Miguel Paredes
- Os meus jogadores nunca tinham competido num campeonato nacional
- Tornou-se fácil criticar, mesmo não construtivamente
- Fico grato ao "Mister" Agostinho Bento
- As equipas B construídas com atletas de primeiro ano foram uma aposta ganha.
- A próxima época está a ser trabalhada, fique, ou não, no clube.
- Assumir um projecto sénior não, mas fazer parte dele, sim.
FafeDesportivo:
Professor Ivo Castro, quando chegou à A.D. Fafe para coordenar o departamento
de formação, como encontrou esse sector, na sua globalidade?
Ivo
Castro: Bem, temos de nos colocar na realidade do clube ao longo dos últimos
anos, uma pessoa que acompanhe as camadas jovens do clube sabe que as condições
de trabalho não eram as melhores. É de aplaudir o trabalho realizado pela
maioria dos técnicos ao longo dos anos. No entanto, um departamento de formação
não se resume apenas e só aos treinos e condições de treino, todas as outras
componentes podiam e deviam estar melhores. Não podemos chegar a um
departamento de formação com a dimensão da ADFafe e encontrar no seu interior
vários “clubes”, o clube dos Juniores o clube dos Juvenis, o clube do Iniciados
etc… foi nítida a falta de verticalidade na pedagogia e na metodologia da
formação. Foi um iniciar de algumas das componentes, como por exemplo, a
criação de uma base de dados que nos vai permitir conhecer o percurso dos
atletas ao longo dos anos, os relatórios de analise estatística de todos os jogos,
os relatórios mensais dos técnicos e departamento médico, a criação de um
regulamento interno e um disciplinar bem como a sua implementação. Documentos
disponíveis para a consulta de qualquer encarregado de educação ou associado.
São
assuntos que levariam a uma conversa muito longa, sintetizo com, o termos de
ser exigentes connosco e não podemos simplesmente deixar andar as coisas, na
formação não podemos pensar ano a ano, penso que isso atrasou a formação do nosso
clube comparativamente ao patamar já atingido por outros do distrito.
FafeDesportivo:
É um treinador vocacionado para esta área específica, ou foi o convite do Fafe
que o seduziu a aceitar tão importante cargo numa estrutura desportiva?
Ivo
Castro: A formação específica que possuo nesta área bem como o conhecimento que
já tinha da realidade deste departamento de futebol juvenil foram talvez as
principais razões que me fizeram aceitar o convite a ADFafe. Senti que mesmo
sendo jovem podia acrescentar valor ao clube numa fase em que a ADFafe apostava
num novo ciclo. Entreguei-me a este projeto e não me arrependo, confesso que,
mesmo sabendo que ainda existe muito trabalho a realizar, fica neste final de
época um certo gozo nos obstáculos já ultrapassados.
FafeDesportivo:
As pessoas gostam de saber. Quantos atletas e técnicos tem, ou teve nesta época
que ainda não terminou, a A.D. Fafe nos escalões de formação?
Ivo
Castro: Neste momento o departamento de futebol juvenil é um dos maiores do
distrito, é composto por vinte e um treinadores, repartidos dois por equipa e
sem esquecer os dois técnicos de guarda-redes. Técnicos que, quase na sua
totalidade são detentores de formação superior, e já experientes nos
campeonatos que disputaram. Um fisioterapeuta, um enfermeiro e 6 massagistas.
Fatores
que ajudam na qualidade de um departamento de futebol juvenil composto por 240
atletas distribuídos por onze equipas, sendo nove delas federadas e duas de
recriação. Condições que mais nenhum clube do conselho aufere.
FafeDesportivo:
A si coube-lhe uma pesada herança. Na época que o antecedeu, o então responsável
Miguel Paredes, tinha efetuado um bom trabalho…
Ivo
Castro: Sim sem dúvida, o Miguel é uma pessoa com alguns anos na formação em que
conquistou o respeito dos fafenses pelo trabalho realizado principalmente ao
serviço dos juniores. E aqui ficam os meus parabéns pela época que conseguiu no
Arões, em conjunto com o Prof. Ricardo Cunha. Mas seria injusto da minha parte
não ir ao seu antecessor, Prof. Tenev, isto porque foi quem conseguiu subir os
juniores á atual divisão nacional e quem pela primeira vez manteve uma equipa
da formação nessa divisão, período em que tive o gosto de ser seu adjunto.
FafeDesportivo:
Sabemos que a equipa que orientou no campo, os juniores, partiram para o
campeonato nacional da 2.ª divisão maioritariamente com jogadores de primeiro
ano. Os inícios foram difíceis…
Ivo
Castro: Não, não foram difíceis. Foram trabalhosos, apesar de ser uma equipa
jovem, com quinze atletas de primeiro ano, sempre mostraram capacidade de
trabalho desde o primeiro dia. Não tenho nada a apontar nesse aspeto aos
atletas. Os resultados obtidos na primeira fase não podem ser confundidos com a
falta de trabalho destes. Trabalharam muito desde o primeiro dia e valorizaram
as suas conquistas. Não podemos é esquecer a especificidade deste grupo de
trabalho, bem como o que se irá juntar a eles provenientes dos juvenis A. São
os únicos que não passaram por equipas B, ou seja, tiveram fases da sua maturação
como atletas em que não tiveram a possibilidade de realizar tantos jogos,
perdendo mais possibilidades de evoluírem. Bem como o facto de nunca terem
competido em campeonatos de nível nacional, participando apenas em campeonatos
da divisão de honra e alguns da segunda distrital. Eles ousaram e foram
compensados.
FafeDesportivo:
Concorda quando algum, ou alguns
adeptos, crucificaram a sua equipa dizendo, decorria ainda a quarta
jornada da fase inicial, que a mesma tinha batido no fundo? Não lhe parece extremamente
prematuro as pessoas terem uma opinião tão drástica, tão pessimista, quando a
sua equipa levava apenas quatro jogos efectuados?
Ivo
Castro: Sim considero, até porque não se preocuparam em informar-se da
realidade. Mas também compreendo que a mudança para um treinador, ainda
considerado jovem, provocou uma desconfiança que ajudou nesse aspeto. Tornou-se
fácil criticar, mesmo não construtivamente, quando não conhecemos as pessoas e
o seu trabalho. Mas nós equipa, aprendemos a tirar lições de tudo o que nos
aconteceu e espero que essas pessoas também. Não creio que existam adeptos que
simplesmente queiram o mal de alguma equipa da ADF, devem é compreender como ajudar,
o bem da ADF ajudará a todos.
FafeDesportivo:
A má classificação no campeonato, levou a A.D. Fafe para uma fase de
manutenção. Aí, a equipa transfigurou-se completamente, chegando a obter
resultados surpreendentes, reforçados com algumas exibições fantásticas. Onde
esteve o segredo?
Ivo
Castro: Não existe nenhum, como referi anteriormente desde o primeiro ao último
dia os atletas trabalharam muito. Apesar de os resultados quantitativos dos
jogos não serem positivos, foram atletas de elite, não faltaram a nenhum
treino, mesmo lesionados estavam lá, dia após dia prontos a trabalhar mais, não
tiveram feriados nem férias. No entanto os atletas deram sempre a cara á luta
pelos seus objetivos porque acreditavam, que os resultados iam aparecer.
FafeDesportivo:
Alguns dos seus atletas foram chamados ao plantel sénior. O que sentiu nessas
alturas?
Ivo
Castro: O objetivo do departamento de futebol juvenil é a formação de atletas
para a equipa sénior e faz parte do seu crescimento enquanto juniores passarem
por essa experiencia. Felizmente o clube dispõe de uma equipa técnica no plantel
sénior que consegue aliar as suas necessidades enquanto equipa profissional com
as necessidades de crescimento dos atletas da formação. Fico grato ao Mister
Agostinho Bento pelo que nos ajudou e pela sua disponibilidade.
FafeDesportivo:
O balanço da época parece-nos muito positivo. Infantis campeões, juvenis B
subiram de divisão e podem tornar-se campeões, e os juniores permanecem nos
campeonatos nacionais. Podia ser feito mais alguma coisa noutros escalões?
Ivo
Castro: Se simplesmente procurássemos resultados quantitativos, sim. Podíamos
ter subido a equipa B de iniciados que apesar de ter realizado um campeonato
fantástico, sendo atletas de primeiro ano num escalão em que a componente
física tem maior relevância, se tivéssemos colocado atletas da equipa A acredito
que teríamos subido, mas até que ponto seria positivo a nível futuro para os
atletas que não iam jogar, que não iam passar pelos jogos mais complicados? O
mesmo aconteceu nos escalões de infantis B e Benjamins. Acredito que para o
clube no presente teria sido um ex-libris de resultados. Mas penso que
fizemos a escolha certa, pensamos na evolução dos atletas.
FafeDesportivo:
Quantas horas gasta por dia um Coordenador do departamento de formação de um
clube de futebol?
Ivo
Castro: Quando se entrega a um projeto que sentimos como nosso, quando estamos
motivados e acreditamos, quando somos ambiciosos, são efetivamente muitas horas
de trabalho por dia, (Observação, logística e metodologia de treino e jogos,
interligação entre clube e encarregados de educação, analise de relatórios,
inscrições, tratamento de dados estatísticos, definição de estratégias, planos
de atividades definição de estratégias de curto médio e longo prazo, avaliação
de desempenhos, reuniões etc…) e tem que se estar disponível 24h por dia.
FafeDesportivo:
Existem boas bases para a próxima época. Juniores mais experientes, nos Juvenis
vamos ter uma grande concorrência, já que o escalão B “apanhou” o escalão A, já
existente, e os Infantis foram campeões. Como se vai organizar esta relação
qualidade/quantidade?
Ivo
Castro: Organizar quantidade quando existe qualidade é mais fácil. Essa
qualidade surge da aposta que fizemos na formação, na adoção de novas medidas,
como a existência de equipa B no escalão de juvenis, como a de todas as equipas
B serem constituídas apenas e só de atletas de 1º ano, medida que penso que já
deveria estar imposta desde a criação da primeira equipa B. Mas seremos
realistas, são novos campeonatos, a exigência vai aumentar e os atletas terão
de saber dar uma boa resposta. Temos de subir as nossas equipas A aos
nacionais, de forma a subir o nível de exigência, não podemos esperar que os
atletas saltem dos distritais para uma divisão nacional apenas na ultima fase
da sua formação e consigam bons resultados.
FafeDesportivo:
Estamos em período eleitoral no clube. Pensa dar continuidade ao seu trabalho?
Ou ainda não foi abordado?
Ivo
Castro: No sentido do que disse anteriormente, quem trabalha na formação não
pode trabalhar em função desses períodos. Pessoalmente penso que esses períodos
no caso da formação deveriam ser alargados. Nesta linha, a próxima época está a
ser preparada independentemente se estarei cá ou não. Serve de conforto que se
sair com certeza que o meu sucessor encontrará um departamento com bases para
crescer diferente do que encontrei.
FafeDesportivo:
Sabemos que o sintético veio solucionar muitos dos problemas, nomeadamente no
que concerne a espaço para treinos. Acha que é suficiente?
Ivo
Castro: O sintético veio ajudar, solucionar não. É simples as nossas equipas
exigem neste momento 37 horas semanais efetivas de treino. Sendo que todos os
atletas estudam os treinos apenas podem iniciar às 18:45, e terminam por volta
das 21:30. Dá um período semanal de cerca de 12horas e meia por semana de
disponibilidade do sintético. Tirem as vossas conclusões. Sendo que temos
definidas algumas estratégias em conjunto com os treinadores que tem ajudado a
otimizar a sua utilização. Sim é verdade que temos campos de apoio, campos
pelados que nos têm sido muito uteis quer pela força da necessidade quer pelas
estratégias de ensino, mas as necessidades competitivas exigiam mais. Fica o
exemplo dos escalões de juniores, juvenis e iniciados que raramente poderem
treinar em campo inteiro. Isso tem influência na formação dos atletas.
FafeDesportivo:
Vamos lançar-lhe um “desafio” final. Se o Professor Ivo Castro fosse convidado
para treinar uma equipa sénior, com aspirações, aceitava? Sente-se preparado?
Ivo
Castro: Pergunta ingrata, porque acredito no trabalho que estamos a iniciar e
sei que os frutos vão aparecer e nada como estar presente para desfrutar. Assumir
projetos de escalões séniores não, não me sinto preparado. Mas fazer parte
deles não excluo. Não escondo de ninguém o meu lado ambicioso, mas sou jovem tenho
muita vontade de aprender e se for com os melhores…
FafeDesportivo:
Este espaço foi e é, todo seu. Pretende deixar algum agradecimento, ou
reconhecimento para alguém?
Ivo
Castro: É óbvio, em primeiro, dar os parabéns aos 240 atletas, treinadores,
massagistas, diretores e funcionários do nosso departamento de futebol juvenil
por esta época. Somos Fafe e só assim venceremos.
Agradecer
ao Vice-Presidente Jorge Fernandes pelo voto de confiança, por acreditar e
estar sempre presente junto do nosso departamento.
Um
reconhecimento para o Prof. Nuno Alves, adjunto de uma época de muito trabalho e animador nos momentos
mais difíceis. Ao
Fisioterapeuta Patrício, sofredor da nossa luta.
E um louvor ao Sr. Joaquim braço direito na logística do nosso departamento, homem que vive para o clube que tanto ama.
E um louvor ao Sr. Joaquim braço direito na logística do nosso departamento, homem que vive para o clube que tanto ama.
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