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À conversa com Carlos Salgado (Treinador da A.C.D. Pica)
Texto e fotos: Abel Castro
- Não houve descuido, simplesmente não fizemos os pontos que precisávamos
- Nunca é fácil ser campeão, veja-se o jogo da 1.ª Liga, e o Ninense que
marcou no último minuto
- Fico muito feliz por ter duas subidas, com alguns jogadores em comum
- Sempre respeitei, e fui respeitado por todos no Pica
- Não invento desculpas fáceis, nem empurro responsabilidades para
outros
- Sou um treinador para onde me desejarem, não fecho portas nem
projectos
- Villas Boas? Em comum só a
pele clara, a juventude e ambição de fazer o melhor
FafeDesportivo: Carlos Salgado, tinha-nos dito na apresentação da sua
equipa, que o Pica iria disputar um campeonato para se “divertir” face às
incertezas que sobre ele pairavam em termos de subidas e descidas. A “diversão”
custou um 12.º lugar…
Carlos Salgado: Divertir com
responsabilidade… Sabia desde início que seria difícil, mas não impossível a
chegada ao Pró-Nacional. Desceram 7 equipas, e fica-nos o sabor amargo de
podermos ter conseguido algo melhor. Todos temos essa consciência. Mas, olhando
para realidade, com frieza, qual o orçamento do Amares, Geres ou Prado…? E o
que lhes aconteceu? Um 12º lugar numa época “normal” daria a manutenção… Esta é
a minha verdade, este é um facto, que não me satisfaz, mas com o qual tenho de
viver. A quando da última manutenção do Pica na Divisão de Honra, o 12º lugar
foi o lugar alcançado. Não comparando épocas, nem orçamentos… Igualamos essa
posição, que no passado deu a manutenção e nestes moldes, não nos permitiu
chegar ao objetivo.
FafeDesportivo: O Pica teve um ataque pouco produtivo ao logo da época,
27 golos, mas também é verdade que, no que concerne a golos sofridos o seu
clube ficou a meio da tabela, 34. Explique-nos porquê…
Carlos Salgado: Vários motivos…
Defensivamente conseguimos estar coesos e nenhuma equipa nos marcou mais de 2
golos nos 30 jogos realizados… Ou seja, as derrotas do Pica, ou foram 2-0 ou
2-1. Julgo que com estes números, demonstramos qualidade e organização
defensiva.
No ataque, perdemos o Álvaro Miguel em
Dezembro – emigrou – e tínhamos contratado o Armando no início de época…
Infelizmente fez 4 jogos, pois uma lesão inicial, e uma no último jogo da 1ª
volta fê-lo terminar a época… Um tinha sido um dos melhores marcadores no ano
da subida. O outro, era alguém em que depositávamos esperanças em nos poder
ajudar… Perdemos os dois muito cedo. Mas, mesmo assim não paramos, e obviamente
estou muito grato a todos os outros jogadores, que tudo fizeram para melhorar e
tentar inverter a fraca eficácia… E a prova, é que nos últimos 4 jogos, marcamos
golos em todos.
FafeDesportivo: Foram nove o número de pontos que faltaram ao Pica para
ascender ao Pró-Nacional. Quando teve conhecimento que iriam subir nove
equipas, o Pica ainda tinha possibilidades de lá chegar? Ou ouve algum descuido
nesse aspecto?
Carlos Salgado: Não houve
descuido… Simplesmente não fizemos os pontos que desejávamos. Alguns por não
termos sido competentes, outros por questões paralelas aos jogos… E outros por
alguma infelicidade. Repare, o Celorico fez o golo do empate aos 93 min, o
Álvelos empata o jogo ao 92 min, e o Amares vence aos 95… Bem sei que a
concentração tem de ser máxima até ao final, mas há também aquela ponta de
sorte que nos fugiu em alguns jogos… Aqui estão 5 pontos perdidos nos
descontos.
FafeDesportivo: A nova Divisão de Honra para a próxima época vai ser
novamente bastante competitiva, com Pica, Antime, Silvares, Regadas, isto só
para falar em equipas de Fafe. Acha que vai ser mais complicado subir?
Carlos Salgado: É sempre difícil
subir… A vitória custa muito. Muitas vitórias custam muito mais… Subir, implica
ganhar mais vezes que os outros. Por isso, nunca será fácil subir de divisão ou
ser campeão em qualquer modalidade. Veja-se o caso agora da nossa 1ª Liga,
veja-se o caso do Ninense… último minuto do último jogo. Admiro sempre, quem
consegue ganhar!
Aproveito para dar os parabéns ao Regadas pela
subida, e mesmo ainda não tendo terminando a época, dar também os parabéns ao
Antime e ao Silvares pelos bons campeonatos realizados!
FafeDesportivo: O Carlos Salgado é defensor da continuidade. Melhor
dizendo, é avesso a grandes alterações nos seus plantéis, e isso tem dado
frutos. Vai permanecer em si essa aposta?
Carlos Salgado: Não se trata de
ser avesso. Qualquer treinador quer sempre os melhores jogadores. Mas infelizmente
isso não é possível. Agora, acho que a estabilidade num grupo é
importante. E fico muito feliz, por ter duas subidas, com alguns jogadores em
comum nessas subidas… Demonstra que não errei, e prova o valor deles e vai permanecer… A estabilidade sim, o nome
dos jogadores dessa estabilidade, não lhe sei dizer.
FafeDesportivo: No Pica ou noutro clube? Continua a sentir-se bem no
Pica? Não são anos a mais no mesmo emblema?
Carlos Salgado: Muitas perguntas
juntas… Inteligência de quem pergunta… Mas vou-me conter. Não por não saber as
respostas, mas por achar que este não é o momento certo para o dizer. Sempre
respeitei e fui respeitado por todos no Pica… certamente não lhe darei uma
resposta sem falar pessoalmente com quem tenho de falar. Eu, o Sr. Presidente e
o SR. António Cunha, sempre resolvemos os nossos assuntos internamente. Jamais
irei alterar a minha conduta.
FafeDesportivo: O seu passado fala por si. Sendo ainda um treinador
jovem, já conquistou aquilo que se calhar muitos não vão conseguir em toda a
carreira. Duas subidas, e uma meia-final da Taça A.F. Braga. O seu telefone
“ainda não tocou” para abraçar outro projecto?
Carlos Salgado: Primeiro
agradecer-lhe esse reconhecimento. Depois dizer-lhe que é algo que não me
preocupa… Já tocou algumas vezes e não se proporcionou. Agora o que eu garanto,
é que jamais serei eu a ligar a algum presidente, diretor, ou jogador para me
arranjar colocação em algum clube. Gosto de andar de cabeça erguida, e se o
digo publicamente é porque não temo ser contrariado. Quero seguir o meu
caminho, porque as pessoas acreditam em mim e no meu trabalho, e não por
interesses, ou “lóbis” instalados. Para mim é mais importante sentir-me
desejado por um clube, do que ambicionar chegar ao clube x ou y.
FafeDesportivo: Há adeptos do Pica que o apelidam de Villas-Boas. Sente
que existe algo em comum, apesar das diferenças que os separam?
Carlos Salgado: Em comum só a
pele clara, a juventude e ambição de fazer o melhor… No resto, e como diz, nada
nos une. Nem os enormes títulos conquistados por ele, nem o patamar de
exigência em que está incluído, e infelizmente, nem a conta bancaria… É uma
mera brincadeira. Mas, como é óbvio, admiro muitíssimo o seu trabalho pela
análise do jogo, o Mourinho pela liderança e o Jurgen Klopp pelo percurso
feito.
FafeDesportivo: Vou formular-lhe a mesma pergunta que lhe fiz há uns
anos. É um treinador para o futebol distrital, ou acha que os campeonatos
nacionais são o seu lugar?
Carlos Salgado: Sou um
treinador, para onde me desejarem. Não fecho portas, nem projetos. Se for pela
competência e pelo mérito, julgo já ter aberto algumas portas e deixado algumas
provas. Se como referi atrás, for por encostos, pedidos, ou prejudicando outros
em meu benefício… Ficarei onde estou. Quem comigo convive, sabe que sou sério,
sabe que sou digno e vertical. Vejo fenómenos estranhos no futebol, mesmo no
distrital, mas de astrologia entendo muito pouco…
FafeDesportivo: Quem foi para si a melhor equipa da Divisão de Honra? O
Ninense é um justo vencedor?
Carlos Salgado: Como já disse,
vencer mais vezes é difícil. Não posso fazer uma análise global às prestações
do Ninense, mas se acabou em primeiro, não serei eu a dizer que foi injusto.
Aproveito e deixo publicamente os parabéns a toda estrutura do Ninense pela
subida.
FafeDesportivo: Sempre destacou o excelente trabalho, em termos
organizativos, do Pica. Teve sempre os jogadores que pediu?
Carlos Salgado: Não se pode
confundir organização com jogadores. Os jogadores fazem parte dessa
organização. Por isso, é óbvio, que não tive todos os jogadores que desejava…
Mas não tive eu, nem todos os treinadores do mundo. Sabe que nunca me lamento
para o exterior, eu já disse que respeito muito as pessoas dos clubes por onde
passo. Temos a nossa opinião, o nosso ponto de vista, e no momento certo tudo
isso foi discutido. Quando perdi o Álvaro e o Armando, acha que não desejei
alguém?! Mas entendo, que como tudo na vida, que as coisas não estão fáceis.
Daí orgulhar-me de nunca exigir mais do que aquilo que o clube tinha para me dar.
Não invento desculpas fáceis, assumo que a culpa é minha e não empurro
responsabilidades para outros… O difícil, é publicamente ter coragem para
assumir o que estou assumir. Eu era o treinador, eu sou o responsável. Ponto.
FafeDesportivo: O futebol no concelho de Fafe está a evoluir de ano para
ano. Veja-se o caso do Arões, que chegou a liderar e está na meia-final da Taça
A.F. Braga e no Pró-Nacional. O Regadas, que subiu, nos novos moldes, à Honra.
Silvares e Antime também estão na Honra. O Travassós no Pró-Nacional. Que
opinião tem acerca deste evidente fenómeno?
Carlos Salgado: Grande qualidade
de quem treina e melhores condições físicas para o treino… Foi um investimento
enorme da autarquia, e eu tinha dito na altura que isto iria responsabilizar
também quem treina. Felizmente, os resultados foram aparecendo. E depois, como
é óbvio, os jogadores… Quem treina, só é treinador se tiver jogadores.
Há um lote de excelentes jogadores nestas
equipas e nestas divisões. E digo-o com total verdade… Há jogadores, que eu
pergunto a mim próprio como estão aqui, ou se quiser… O que estão aqui a fazer?
Pela qualidade, pelas prestações, e pelo nível exibicional têm todas as
condições para estarem noutros patamares.
FafeDesportivo: Quer deixar alguma mensagem, ou mensagens, de
agradecimento para alguém?
Carlos Salgado: Sim, quero
agradecer a todas as pessoas que comigo trabalharam. Primeiro àqueles que
comigo sofreram, o Prof. Alcino e o Carlos, meus companheiros na equipa
técnica. Depois, a todos os jogadores, pelo empenho e entrega o meu obrigado
público.
Em seguida, ao Carlos, massagista, pela
cooperação e dedicação e ao Sr. Cândido e filho Quim, pela ajuda e condições de
treino proporcionados.
Por fim ao Sr. Presidente e ao Sr. António
Cunha, pela confiança demonstrada em mim, em mais de 100 jogos realizados pelo
ACDPICA.
E finalmente um abraço a todos os amigos e
simpatizantes do ACDPICA.
Queria deixar uma palavra para o
FafeDesportivo, esperando que a senda do êxito tenha ainda uma maior expansão.
Abraço!
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