FafeDesportivo à conversa com Vítor Pacheco (ex-Treinador do G.D. Silvares)
Não faltam treinadores e jogadores interessados em representar o Silvares.
Desde muito cedo que ambiciono uma vida ligada ao futebol.
Quero atingir patamares que não consegui como jogador.
Orgulho-me dos clubes que representei.
Gostava que Felgueiras seguisse o exemplo de Fafe.
O Francisco Castro terá muito sucesso na sua carreira de treinador.
Por enquanto sou um treinador disponível.
Tenho de agradecer à minha esposa, que me atura nas más disposições.
Por: Abel Castro
FafeDesportivo: Vítor
Pacheco, veio para o Silvares, manteve o clube na 1.º divisão, e nesta época
consegue o 3.º lugar e a consequente subida de divisão. Fale-nos, apenas em
termos desportivos, destas duas épocas no G.D. Silvares…
Vítor Pacheco: Em termos
desportivos penso que o balanço é extremamente positivo, foram duas épocas onde
o Silvares andou sempre entre os primeiros classificados, onde conseguimos o
respeito e admiração de todos os adversários. No primeiro ano tivemos de
construir uma equipa completamente nova, apenas três jogadores transitaram do
plantel anterior, tivemos a condicionante de só em Outubro termos campo para
jogar e treinar uma vez que o nosso estava em obras de colocação do sintético,
e mesmo assim conseguimos uma época completamente tranquila, passando a maior
parte do tempo nos primeiros cinco lugares. Neste último ano as coisas foram
planeadas com tempo e penso que fizemos uma época muito boa, chegamos à
penúltima jornada com hipóteses de chegar ainda ao 1º lugar o que por si só diz
do trabalho que fizemos! O Silvares é um grande clube, um clube com um rico
passado, mas não estarei muito enganado se disser que quando cheguei ao clube
este vivia um dos períodos mais negros da sua história, o que valoriza ainda
mais o trabalho desenvolvido!
FafeDesportivo: Ingressou
no clube numa fase difícil. Não teve receio de assumir o risco? É um homem sem
medo?
Vítor Pacheco: Quando
acreditamos no trabalho que fazemos o receio não existe. O risco está
intimamente ligado à profissão de treinador, quem tiver medo ou receio não pode
ser treinador de futebol! Quando começamos a construir o plantel na primeira
época não tivemos tarefa fácil, convencer os jogadores a fazerem parte de um
projecto num clube que nos últimos anos não tinha honrado os seus compromissos
foi uma árdua tarefa, felizmente consegui rodear-me de jogadores sérios e
competentes, que acreditaram no meu trabalho e na seriedade das pessoas que
acabavam de tomar conta do clube. Felizmente tudo correu bem, e hoje não faltam
jogadores e treinadores interessados em representar o Silvares, a recuperação
da credibilidade do clube e a sua colocação em elevados patamares de rendimento
desportivo foram as maiores conquistas nestes dois anos.
FafeDesportivo: Iniciou a
sua carreira de treinador muito cedo, numa altura em que jogava futebol. Sentia
já nessa altura que era uma personalidade talhada para orientar?
Vítor Pacheco: O fascínio
pelo futebol, e neste caso específico pelo treino vem desde sempre, enquanto
jogador sempre tive a curiosidade de tentar perceber o porquê de se fazer
determinados exercícios, não apenas fazê-los mas entender a sua utilidade,
rentabilidade. Desde muito cedo que ambiciono uma vida ligada ao futebol, um
mundo que me encanta, me fascina, me realiza!
FafeDesportivo: Obviamente
as pessoas, sócios adeptos e dirigentes, só terão de enaltecer o seu extraordinário
trabalho. Mas não acha precipitada a sua saída, mesmo sabendo que a sua
Direcção termina o mandato, mas pode continuar. Não o seduziria por exemplo
tentar mais uma época no Silvares, para tentar bater um record, que foi a ida
do clube às meias-finais da Taça A.F. Braga?
Vítor Pacheco: A decisão
de abandonar o Silvares no final da presente época já foi tomada há algum
tempo, e comunicada ao presidente nessa mesma altura, apenas foi tornada
publica agora porque o clube estava na luta pelos primeiros lugares e era
importante manter o foco e a concentração, apenas nisso. Se tivéssemos por
exemplo ficado em 1º lugar sairia na mesma, a decisão estava tomada
independentemente do que conseguíssemos em termos desportivos. Quando sentes
que dificilmente terás condições de fazer mais, que os objectivos do clube não
se enquadram com aqueles que defendes e idealizas o melhor é sair e procurar
algo que vá de encontro ao que pretendes. Nunca fez parte de mim estar nos
projectos por estar, ou estou com objectivos, ambições ou prefiro não estar.
Conseguimos esta época a segunda melhor classificação do Silvares na última
década, pelo menos dos registos que tenho conhecimento, apenas superada pelo título
que conseguiu, salvo o erro, em 2008/2009. Não que este 3º seja um feito
extraordinário, muito menos que me deixe realizado, mas atendendo aos
objectivos que o clube tinha e à difícil realidade que enfrente, é algo que me
deixa feliz e orgulhoso.
FafeDesportivo: Sabemos
que é muito rigoroso na análise aos jogos, já o era enquanto jogador, porque
acompanhamos o seu percurso no Antime. Os jogadores da distrital, enquanto
amadores, estão preparados para ouvir palestras, e visualizar e interpretar
esquemas de jogos tipo futebol profissional?
Vítor Pacheco: Cada vez
mais se trabalha bem no futebol distrital e a prova disso é por exemplo o que
aconteceu este ano com o Olhanense, que não teve receio de apostar num
treinador do distrital para enfrentar três jogos decisivos na luta pela
manutenção no principal escalão do futebol português. Quantos clubes do futebol
profissional não se reforçam com jogadores de escalões inferiores?! E não é
apenas pela difícil conjuntura económica do país que o fazem, mas sim porque
sabem que nos escalões secundários há muita gente com qualidade, à espera
apenas de uma oportunidade para provar que tem tanto ou mais valor que os que
lá estão. Defendo que devemos trabalhar da mesma forma quer estejamos no
futebol distrital ou no profissional, a diferença está nas condições que tens
para treinar e nos meios que colocam à tua disposição. Os meus jogos são
preparados ao pormenor, não descurando o que quer que seja, os jogadores sabem
por exemplo qual a posição que devem ocupar nas bola paradas, sabem qual a sua
missão, responsabilidade neste tipo de lances, não ocupam a posição que querem
ou lhes apetece, há a responsabilização. Pela experiência que tenho os
jogadores gostam e aceitam bem esta forma de trabalhar, sentem que este é o
caminho para evoluírem e darem o seu tempo por bem entregue, se temos que fazer
há que procurar fazer bem! O tempo em que os jogadores de futebol eram vistos
como pessoas com poucas capacidades intelectuais, que apenas tinham jeito para
jogar futebol, há muito está ultrapassado, os jogadores são cada vez mais
inteligentes, procuram cada vez mais entender o jogo e tudo o que o rodeia, o
que exige cada vez mais dos treinadores, não basta fazer, tens de saber o que
fazes e transmitir segurança, caso contrário não conseguirás que acreditem no
teu trabalho. Se ambicionamos estar entre os melhores, temos que trabalhar como
os melhores!
FafeDesportivo: Sente-se melhor enquanto treinador, ou ex-jogador de futebol ?
FafeDesportivo: Sente-se melhor enquanto treinador, ou ex-jogador de futebol ?
Vítor Pacheco: Prefiro que sejam os outros a fazer essa análise, o que sinto é que gostaria de atingir enquanto treinador patamares que nunca fui capaz de atingir enquanto jogador.
FafeDesportivo: O Silvares
andou até perto do final do campeonato a “morder os calcanhares” aos candidatos
à subida. O que falhou para subir de divisão?
Vítor Pacheco: Numa
análise fria e realista, os pontos que perdemos com os últimos classificados
seriam suficientes para ficarmos em primeiro lugar, no entanto nada posso
apontar aos jogadores, pois foram sempre sérios na abordagem aos jogos, a
motivação das equipas que estão no fundo da tabela quando jogam com as que
estão no topo é enorme, se calhar em alguns desses jogos não conseguimos
igualar essa motivação e isso custou-nos caro. Não é fácil ser campeão num clube
que não tem essa ambição, onde as pessoas que gerem os seus destinos não estão
focadas nesse objectivo, penso que se esse fosse o objectivo do clube e todos
tivessem trabalhado em prol dele teria sido alcançado.
FafeDesportivo: Costumam
transitar consigo jogadores que bem conhece. Preparado para pegar numa equipa
sem nenhum atleta do actual plantel?
Vítor Pacheco: Quando saí
de Antime nenhum jogador do denominado núcleo duro que se refere transitou
comigo, vieram apenas comigo as dispensas, aqueles que o Antime não convidou a
ficar, só este ano consegui trazer alguns que queria, não foi por isso que
deixamos de fazer um bom campeonato no primeiro ano. No primeiro ano num
plantel de 23 jogadores apenas 4/5 tinham trabalho comigo, todos os outros não
conhecia. Este ano por exemplo o jogador mais utilizado do Silvares foi o
Salgado, um jogador que não conhecia, nunca tinha sequer visto, que fomos
buscar porque precisávamos de um central e nos deram boas referências dele.
Existem de facto alguns jogadores que pela sua enorme qualidade enquanto seres
humanos exemplares e futebolistas de elevado rendimento serão sempre primeiras
opções em projectos que eu faça parte. Todos os treinadores procuram ter os
melhores do seu lado, mas quando não é possível temos que estar preparados e
rentabilizar ao máximo os que estão connosco, não tenho qualquer problema com
isso!
FafeDesportivo: Toda a
gente ligada ao futebol tem conhecimento do seu sportinguismo. Sabemos que é
observador do Sporting Clube de Portugal. Tem apontado alguns talentos ao clube
lisboeta?
Vítor Pacheco: Felizmente
o trabalho que tenho feito nessa área tem corrido muito bem, no início de 2012
fui promovido, passando a ser um trabalhador assalariado do clube, faço
actualmente parte dos observadores residentes, sinal que as pessoas estão
satisfeitas com o meu trabalho.
FafeDesportivo: Apesar das
suas habilitações como técnico lhe darem acesso a outros campeonatos, é no
futebol distrital que sente bem, ou pretende dar o salto, sendo que ainda é
jovem, 32 anos?
Vítor Pacheco: Como disse
anteriormente tenho como principal objectivo conseguir alcançar como treinador
patamares muito superiores aos que consegui como jogador. Trabalho diariamente
na expectativa de conseguir evoluir em termos qualitativos, sou jovem ainda,
sei que este é um mundo muito competitivo em que as oportunidades nem sempre
surgem. Neste momento a minha realidade é esta, orgulho-me dos clubes que
representei, se a oportunidade de treinar divisões superiores surgir estarei
preparado e tudo farei para aproveitar essa oportunidade!
FafeDesportivo: Vai
continuar a treinar no concelho de Fafe? Sabe que Fafe dá visibilidade aos
treinadores…
Vítor Pacheco: Essa é uma
pergunta para a qual não tenho resposta, treinei dois clubes em Fafe e foi um
enorme orgulho representar ambos. Existem grandes clubes em Fafe, todos os
treinadores gostariam de representar grandes clubes, mas neste momento não
tenho qualquer proposta, logo não sei por onde passará o meu futuro.
FafeDesportivo: Diga-nos
qual foi o seu maior triunfo desportivo?
Vítor Pacheco: Enquanto
treinador ainda não conquistei qualquer título, espero poder abraçar projectos
que me permitam fazê-lo. Enquanto jogador o título de campeão de juniores pelo
Futebol Clube de Felgueiras, inédito no clube, que o levou pela primeira vez
aos campeonatos nacionais foi o mais marcante.
FafeDesportivo: Não
acreditamos que tal aconteça. Mas vamos imaginar. Consegue ficar um ano sem
fazer uma das coisas que mais gosta na vida, treinar uma equipa de futebol?
Vítor Pacheco: Também
espero que isso não aconteça, mas temos de estar preparados para todos os cenários,
o mercado dos treinadores é muito vasto e competitivo e estar no activo não
depende apenas da nossa vontade, por isso temos que estar sempre preparados, na
certeza que se acontecer saberei esperar por nova oportunidade.
FafeDesportivo: Sendo um
felgueirense de gema, natural e residente em Várzea, quem é para si o melhor
clube do concelho de Fafe?
Vítor Pacheco: Não seria
justo estar a enumerar um, até porque por dentro apenas conheço a realidade de
dois. Existem grandes clubes, que neste momento dispõem de condições físicas de
excelência que permitirão que atinjam ainda níveis superiores! E nesse aspecto
presto aqui a minha homenagem à Câmara Municipal de Fafe pelo excelente
trabalho feito, um exemplo a ser seguido por muitos municípios, ficaria muito
satisfeito se o município de Felgueiras seguisse o exemplo. Fafe está neste
momento na linha da frente no que diz respeito às condições para os seus jovens
praticarem desporto, nomeadamente o futebol que é do que estamos a falar.
FafeDesportivo: Agora que
terminou o campeonato, permita-nos que lhe pergunte; que análise faz ao
trabalho do seu ex-adjunto Francisco Castro, no Antime. Apenas lhe formulamos
esta questão por se tratar do seu adjunto, nada de confusões…
Vítor Pacheco: Não me
compete a mim analisar o trabalho do Francisco no Antime, nem seria justo
fazê-lo, o Antime tem dentro da sua estrutura pessoas muito competentes, se o
convidaram a continuar no clube é porque lhe reconhecem qualidade e estão
satisfeitos com o trabalho desenvolvido. A mim não me surpreende que o tenham
feito, pois reconheço muita competência ao Francisco, como amigo pessoal dele
fico muito contente, não tenho duvidas que terá muito sucesso na sua carreira
de treinador!
FafeDesportivo: O seu
telefone já tocou? Existe algum projeto na manga?
Vítor Pacheco: Não, por
enquanto ainda não tenho nada.
FafeDesportivo: A nossa
conversa já vai longa, apesar de ser sempre um prazer falar consigo. Quer
deixar alguma mensagem, agradecimento, recado, para alguém?
Vítor Pacheco: Antes de
mais agradecer a forma sempre simpática e cordial com que me trata, dar os
parabéns pelo trabalho que tem desenvolvido, espero que o faça por muitos e
bons anos, pois divulga e valoriza quem no desporto em geral e de Fafe em
particular, trabalha. Os meus agradecimentos vão em primeiro lugar para a minha
esposa, pelo apoio que sempre me dá, pela paciência que demonstra em aturar as
minhas más disposições, pelo acompanhamento e incentivo constante. Depois
agradecer a todos os que me têm acompanhado neste trajecto, todos contribuíram
de forma decisiva para o meu desenvolvimento enquanto treinador, principalmente
aos jogadores, é muito gratificante sentir que apreciam o meu trabalho e tudo
fazem para que o mesmo dê frutos, estarei eternamente grato a todos pelo que me
deram! Aos meus colaboradores Sérgio e David, obrigado pela lealdade, dedicação
e competência demonstradas, foram uma indiscutível mais-valia, o futuro terá
reservado algo de bom para nós!
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