FafeDesportivo à conversa com Agostinho Bento, treinador da A.D. Fafe
Texto e fotos: Abel Castro
Não sou adepto do sistemo táctico com um ponta de lança.
Associarem-me a Manuel Machado ou a António Valença deixa-me envaidecido.
Estou tão à vontade para uma aventura numa Divisão superior, como estava para ser treinador do Fafe quando fui convidado.
O Pró Nacional não é mais que um campeonato Distrital com outro nome.
Teria a humildade necessária para aceitar outro cargo no Fafe se achasse que fosse positivo para o clube.
O futebol não é tão simples como alguns o querem ver, mas também não é tão científico como alguns doutores o querem vender.
Neste momento o Fafe não tem treinadores nem jogadores para a época 2013/2014.
FafeDesportivo:
Agostinho Bento, depois de um 2.º lugar há duas épocas, seguiu-se uma
classificação no meio da tabela no campeonato que terminou. Conte-nos o que se
passou…
Agostinho Bento: Claro que
poderia enveredar pelo caminho fácil e dizer que sofremos muitas contrariedades
durante toda a época. Desde alguma infelicidade em alguns jogos, lesões,
penaltis, cartões e suas respectivas sanções, etc. mas de uma forma justa e
resumida, tenho que dizer que fomos menos competentes do que na época anterior
e que defrontamos equipas mais fortes.
FafeDesportivo: As saídas do Ricardo, Bijou, Elísio e
Sequeira, principalmente estes, foram devidamente colmatadas?
Agostinho Bento: Se esses
jogadores saíram para campeonatos profissionais é porque eram jogadores de qualidade.
Face à redução de orçamento imposta pela Direcção do clube, sabíamos que não
seria fácil colmatar as suas saídas. No entanto, julgo que tentamos e
conseguimos parcialmente resolver o problema. Apenas não conseguimos solução
para a profundidade ofensiva que o Sequeira implementava na equipa.
FafeDesportivo: Ao longo do campeonato fomos-lhe
colocando esta questão. O Fafe apenas dispôs neste último campeonato de um
ponta de lança, Badará, que nem sempre foi primeira opção. Não foi um erro não
se ter contratado outro homem de área?
Agostinho Bento: Primeiro
quero referir que neste momento o Fafe não tem argumentos financeiros para contratar
um ponta de lança que faça a diferença, quanto mais dois. Não nos podemos
esquecer que o Badará, com o qual eu fiquei satisfeito, foi contratado ao Melgacense
da terceira divisão. Em segundo, não vale a pena contratar dois ponta de lança
por contratar. Até poderia ter dois ou três e não jogar nenhum, se eu achasse
que eles não fossem úteis para a equipa. Em terceiro, quero dizer que não sou adepto
do sistema táctico com um ponta de lança.
FafeDesportivo: Ficamos com a sensação que a partir do
jogo em Chaves, a equipa começou a ser prejudicada fora das quatro linhas.
Concorda?
Agostinho Bento: Obviamente
que concordo com essa constatação, mas não gostaria de entrar por esse caminho
porque se isto realmente aconteceu, nós, de alguma forma, fomos cúmplices
permitindo em situações de jogo que outros nos prejudicassem.
FafeDesportivo: No final de um dos últimos jogos, disse-nos
que era tipo o "Bob o Construtor"…
Agostinho Bento: Todos
sabem que quando se iniciou a época, o nosso plantel não tinha dois jogadores
para cada posição. Para agravar esse handicap tivemos três lesões graves, duas
delas que impediram o Silvestre e o Xavi de ajudar a equipa grande parte da
época. Para agravar, fomos a equipa que mais sanções teve ao longo do campeonato.
Todos esses impedimentos obrigaram-me constantemente a adaptar jogadores a
posições novas e construir equipas impensáveis. No Varzim-Fafe, acabamos em
inferioridade numérica, com o Primo e o Ferrinho a centrais e o Tiago André a
defesa esquerdo.
FafeDesportivo: Há dias lemos nas redes sociais um
comentário de um fervoroso adepto que dizia que no Fafe, há três treinadores
que deixaram a sua marca; António Valença, Manuel Machado e Agostinho Bento.
Quer comentar?
Agostinho Bento: Estar
associado a treinadores como o Manuel Machado e António Valença, deixam-me
naturalmente muito satisfeito e até envaidecido, pois foram dois treinadores que
deixaram em Fafe marcas desportivas e humanas fantásticas.
FafeDesportivo: Sabemos que os orçamentos da A.D. Fafe
têm baixado ano após ano. Como é possível manter a espinha dorsal da equipa
nestas condições?
Agostinho Bento: Não é
fácil. No fim do ano passado perdemos alguns jogadores, este ano poderão ser
outros a sair. Com o passar dos anos a espinha dorsal vai sendo substituída.
Importante, será no futuro substituir a antiga espinha por uma nova, tão ou
mais capaz que a anterior.
FafeDesportivo: Ficamos com a sensação de que, se o
Fafe arriscasse um pouco mais em termos de orçamento para o futebol sénior,
poderia fazer uma equipa muito mais competitiva. Nunca se pensou nesse aspecto?
Agostinho Bento: Julgo que
todos os clubes da nossa Divisão pensam dessa forma, mas todos sabem das suas
limitações e poucos são os clubes com argumentos financeiros para arriscar. As
Direcções são constituídas por seres humanos que ouvem e vêem o se passa em
Portugal e não estão em condições de arriscar. O risco não é condição “sine qua
non” para ter sucesso desportivo. Este ano, por exemplo, o Ribeirão e o
Famalicão fizeram um forte investimento que não teve o retorno pretendido.
FafeDesportivo: Agora com o novo modelo implantado na
constituição das Divisões Nacionais, tem noção que se torna mais fácil um clube
da então regional, agora Pró Nacional, poder competir com a A.D. Fafe de um
momento para o outro. Não é altura de o Fafe pensar na Liga de Honra, dado que
é o clube mais representativo do nosso concelho?
Agostinho Bento: Em
primeiro quero-lhe dizer que a reorganização dos campeonatos apenas uniu a
segunda e terceira Divisão, num mega campeonato nacional formado por 80
equipas. O Pró-nacional, não é mais que um campeonato Distrital com um nome
diferente. Em segundo e em resposta à sua pergunta, digo que neste momento é
tão difícil ao Fafe subir à Liga de Honra, como outro clube do concelho subir
ao campeonato nacional de seniores. Em terceiro digo” com toda a certeza” que
treinadores, jogadores, directores e adeptos em geral pensam na Liga de Honra,
mas pensar só não chega. Se fosse por vontade dos clubes, a Liga de Honra teria
que fazer um alargamento gigantesco.
FafeDesportivo: Quem foi para si a melhor equipa do
campeonato?
Agostinho Bento: A melhor
equipa do campeonato foi o Mirandela, mas infelizmente não chegou.
FafeDesportivo: Vai conseguindo manter a seu lado um
naipe de jogadores que alinham juntos há bastante tempo, o que é benéfico em
todos os aspectos. Alguns avançam na idade, outros serão abordados por clubes
com maiores ambições. Pensa manter o denominado núcleo duro, mesmo assim?
Agostinho Bento: Julgo que
a indefinição das eleições directivas poderá trazer algumas dificuldades na
construção do próximo plantel. Neste momento o Fafe não tem treinadores nem
jogadores para a época 2013/2014.
FafeDesportivo: Entrou no Fafe evitando uma descida,
subiu no ano seguinte, ficando nos primeiros lugares no campeonato. Seguiu-se o
segundo lugar há duas épocas. Nunca teve convites para abraçar um projecto com
outras ambições? Sente-se à vontade para uma nova aventura numa divisão
superior?
Agostinho Bento: Já fui
convidado para “outros projectos” mas não com a grandeza que me permita voltar
as costas à A.D. Fafe. Estou tão à vontade para uma aventura numa Divisão superior,
como estava para ser treinador do Fafe quando fui convidado. A tranquilidade é
a mesma, a minha preparação é neste momento superior. O futebol não é tão simples
como alguns o querem ver, mas também não é tão científico como alguns doutores
o querem vender.
FafeDesportivo: Sabemos que vai haver eleições no
clube. Já tem jogadores sinalizados no seu bloco de apontamentos para a próxima
época, ou aguarda pelo desfecho das eleições?
Agostinho Bento: Como
agente do futebol e não como treinador do Fafe, tento introduzir muitos atletas
no meu bloco. Só que infelizmente é um bloco informático pobrezinho, que me
elimina muitos dos nomes que eu introduzo. Claro que aguardo pelo futuro.
FafeDesportivo: Sabemos que o Agostinho Bento é
funcionário da A.D. Fafe. Aceitaria outro cargo no clube, sem ser o de
treinador principal da equipa sénior de futebol?
Agostinho Bento: Sei o que
valho e o que posso conseguir como treinador no Fafe ou noutro clube qualquer,
mas já disse e repito, que teria a humildade necessária para aceitar outro
cargo no Fafe se achasse que fosse positivo para o clube.
FafeDesportivo: Quer deixar algum agradecimento, ou
agradecimentos, para alguém?
Agostinho Bento: Quero
aproveitar para agradecer à Direcção a confiança que depositou em mim ao longo
destes quatro anos, aos atletas e restantes elementos de trabalho por tornar a
minha tarefa mais simples, aos adeptos pelo apoio, ao professor Ricardo por ser
meu amigo e parceiro de trabalho e à minha família, por sofrer comigo nos maus momentos.
O Meu muito obrigado a todos.
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