segunda-feira, 1 de junho de 2015

Miguel Paredes: Grande Entrevista!


Texto e fotos: Abel Castro


  • Foi uma decisão difícil sair do Arões S.C.
  • O Arões já vem a crescer nestes últimos 10 anos.
  • É importante uma Direcção que confira estabilidade ao grupo de trabalho.
  • Perder em Amares marcou psicologicamente a equipa.
  • No banco ora sou mais calmo, ora mais interventivo.
  • A minha ambição é treinar uma equipa de topo da A.F. Braga.
  • Agradeço à Direcção e à minha equipa técnica.
  • Há disparidade da autarquia entre dois clubes separados por um escalão.


FafeDesportivo esteve à conversa com Miguel Paredes, ex-técnico do Arões S.C., onde teve uma passagem extraordinária, essencialmente a segunda, que culminou com um 2.º lugar com acesso directo à Taça de Portugal, ficando agora a aguardar por uma eventual “chamada” para participar ainda no CNS...

FafeDesportivo: Miguel Paredes, comecemos pelo fim. De forma completamente inesperada deixou de ser o treinador do Arões S.C. . Explique-nos as razões da sua saída. Algum convite tentador em carteira?
Miguel Paredes: Foi uma decisão bastante difícil de tomar, mas muito ponderada. Depois de 3 anos a liderar a equipa de futebol, onde conseguimos no primeiro ano o apuramento para o pró-nacional com o 5.º lugar e conseguimos chegar a à final da taça da AF Braga, de no segundo ano conseguimos o 3º lugar do campeonato e neste ultimo ano conseguimos  atingir o 2.º lugar em igualdade pontual com o U. Torcatense que garante o acesso histérico à Taça de Portugal e  que poderá dar acesso ao C. Nacional de Seniores, decidi que estava fechado o ciclo no Arões S.C. Foi uma decisão tomada mais com a cabeça que com o coração, pois se fosse pelo coração, se calhar continuava no Arões. Não foi uma decisão tomada com base em nenhum convite que tenha recebido, mas sim com base na intenção de mudar o rumo do nosso percurso.

FafeDesportivo: Estas últimas três épocas foram de sonho. Mas a última, foi mesmo a melhor. Como é que um treinador consegue manter esta regularidade e chegar onde chegou em três anos?
Miguel Paredes: O percurso do Arões nestes últimos anos, vem no seguimento do crescimento que vinha tendo nos últimos 10 anos. No futebol, é tão ou mais importante ter um bom treinador e bons jogadores, como o fechar o grupo e ter uma direcção que confira estabilidade ao grupo de trabalho. Assim, esta época foi conseguida com a colaboração de todos, onde devem ser destacados os jogadores, que no fundo são os verdadeiros obreiros dos bons resultados conseguidos.
FafeDesportivo: Nunca o vimos assumir candidatura a nada. O seu discurso foi sempre de contenção, do género…jogo a jogo. Teve medo de assumir que o Arões era candidato a subir?
Miguel Paredes: Não se trata de medo ou estratégia, mas apenas aquilo que é a realidade no pró-nacional, isto é, neste campeonato só se pode pensar jogo a jogo, e, quem pensar a longo prazo arrisca não ganhar o jogo seguinte. A única estratégia que usamos, quando perdemos alguns jogos e saímos dos primeiros lugares, foi dizer que estávamos fora da corrida, para retirar pressão aos jogadores e para indiciar que tínhamos desistido. A minha posição é muito clara relativamente ao favoritismo, isto é, na minha opinião o favoritismo tem de se manifestar dentro do campo e não nas declarações dos treinadores, jogadores e directores.
FafeDesportivo: Houve uma fase em que o Arões andou à procura dos resultados. Teve a ver com quê?
Miguel Paredes: Por volta de Março, tivemos dificuldades, após chegar ao primeiro lugar não conseguimos agarrar o lugar. Tivemos também contrariedades, sofremos o empate com Serzedelo e Taipas em casa a terminar o jogo e numa altura que controlava-mos o jogo e tivemos algumas lesões que nos condicionaram. Mas nesta fase o que faltou mesmo foi atitude e entrega por parte da equipa, e isso é responsabilidade do treinador e nessa fase falhei ao não conseguir incutir esses valores nos jogadores. Outro factor que influenciou, foi termos perdido em Amares para a Taça AF Braga, num golo sofrido nos últimos minutos, depois de ter feito um excelente jogo. Essa derrota marcou psicologicamente a equipa
FafeDesportivo: Considera que o jogo em Nine, excelente vitória, foi o mais importante da época?
Miguel Paredes: Não considero, foi um jogo decisivo mas não o mais importante da época. Paradoxalmente o mais importante foi a derrota em casa com o Merelinense por 2-4 a 7 jogos do fim do campeonato. Essa derrota, marcou a equipa, a equipa técnica e mudamos a atitude, após o que conseguimos 6 vitórias consecutivas após essa derrota.
FafeDesportivo: Durante estas três épocas passadas em Arões, as aquisições tiveram sempre o seu aval, ou eram “impostas” pela Direcção?
Miguel Paredes: Os jogadores que entravam e que saiam eram sempre de acordo com a direcção e equipa técnica e nesse aspecto as coisas correram de uma forma muito positiva e podem ser vistas como um exemplo de todos a trabalhar no mesmo sentido.
FafeDesportivo: O Miguel Paredes sempre foi adepto da manutenção de um núcleo duro. É proveitoso? Não envelhece a equipa?
Miguel Paredes: Envelhecer a equipa? Primeiro não considero haver um núcleo duro. Existem alguns jogadores à algum tempo no clube e não são velhos, são jogadores na casa dos 24/25/26 anos, como o Fernando Beijinhos,  Raimundo, André, Zezinho, Rosita, sendo que o Paulo Jorge é que é mais velho, mas ocupa uma posição especifica e o Bruno Cunha que tem mais de 30 anos, mas cada vez está melhor. Depois entram todos os anos alguns jogadores, uns mais velhos como o Pablo, Zezé, Filipe, e outros jovens como o Marcos, João, Rampa, Agostinho, Gustinho, Nené, Barbosa, etc. O Jogador de futebol não tem idade, o que importa é a sua qualidade e rendimento.
FafeDesportivo: Tem uma forma tranquila de estar no banco. Não é adepto do treinador que faz quilómetros durante um jogo?
Miguel Paredes: Com esta, a pergunta anterior, deixa transparecer que o FafeDesportivo não tem acompanhado muito os jogos do Arões SC. No banco umas vezes sou mais calmo, outras mais interventivo, tudo dependendo da forma como o jogo está a correr. Quando a equipa entra bem e sinto que está bem no jogo, é normal até sentar-me confortavelmente no banco, quando a equipa não está tão bem a minha intervenção é superior. No entanto não sou adepto que o foco esteja focado no treinador, preferindo que o foco esteja a incidir nos atletas.
FafeDesportivo: Notou diferenças após a saída do ex-presidente Pedro Castro, que disse ter chorado com a sua primeira saída no Arões?
Miguel Paredes: Felizmente no Arões tive a sorte de lidar com Grandes dirigentes. No primeiro ano com o Pedro Castro, Vítor Castro e Paulo Martins, no segundo apenas com o Paulo Martins e Pedro Castro e neste ultimo ano com o Vítor e o Paulo Martins. Felizmente que estivemos sempre muito bem acompanhados, por estes directores sendo normal haver diferenças entre os 3, mas sempre as coisas correram muito bem. Assim, mais que directores são amigos para a vida e que fizeram com que fosse melhor do que era. Como amigos que somos todos, é normal que as decisões difíceis marquem cada um de nós e deixem marcas para o futuro pelo que não duvido que a nossa primeira separação foi muito dolorosa para nós equipa técnica, como o foi para a direcção.
FafeDesportivo: Sentiu sempre uma retaguarda forte no clube? É que há treinadores que se preocupam com outras coisas nos clubes, para além de treinar…
Miguel Paredes: Um treinador tem que ser mais que um treinador em muitas situações. Tem de ser psicólogo, confidente, pai, irmão, etc, etc, mas nunca pode ser director, porque ambas as funções colidem. No Arões nunca tive necessidade de ser mais que o que as minhas funções deviam ser.
FafeDesportivo: Agora, que está parado, perguntamos; Disposto a assinar um contrato como profissional? Abdicaria da sua profissão?
Miguel Paredes: Não, está fora de questão. A minha ambição como treinador é ser treinador das equipas de topo da AF Braga, clubes históricos e com tradição e que em circunstâncias especiais possam atingir o Campeonato Nacional de Seniores, sendo sempre amadores.
FafeDesportivo: Viveu certamente no Arões os seus melhores momentos como treinador. Sente que fica a dever isso ao Clube?
Miguel Paredes: Foram anos de trabalho intenso em que clube deu muitos á equipa técnica e em que a equipa técnica deu muito ao clube. Ninguém deve nada a ninguém, ambos trabalharam em conjunto para que o clube crescesse e ele cresceu.
FafeDesportivo: Deixou-lhe algum amargo de boca não ter terminado a época ora finda na primeira posição?
Miguel Paredes: Ficou nestes anos o amargo de não termos conseguido uma grande “vitória”, ficamos à porta nestes três anos mas nunca conseguimos entrar. Apesar de 3 temporadas históricas, as mesmas poderiam sem ainda mais memoráveis.
FafeDesportivo: O Arões S.C. tem sido ainda um exemplo na Formação. Esses êxitos também lhe pertencem?
Miguel Paredes: Não, nada, absolutamente nada. Os êxitos da formação devem-se ao excelente trabalho da direcção, do coordenador técnico e meu adjunto Ricardo Cunha e todos os treinadores que trabalham no clube. Conseguem com poucas condições fazer muito e todos estão de parabéns em especial os juniores e juvenis pelos títulos alcançados. Foi um ano de sucesso em todos os sentidos.
FafeDesportivo: Temos praticamente a certeza, até pelo seu trabalho, que vai continuar a ser treinador de futebol, no activo, na próxima época. Confirma?
Miguel Paredes: Como lhe disse,  um objectivo é abraçar um projecto ambicioso de um bom clube que me possibilite trabalhar em boas condições, mas quanto a isso só mais tarde se saberá se tal desejo poderá ser concretizado.
FafeDesportivo: Terá obviamente algumas considerações a fazer. Agradecimentos ou críticas. Disponha…
Miguel Paredes: Agradecer em primeiro lugar à minha equipa técnica Professor Ricardo Cunha e Fernando Ferreira pela qualidade do seu trabalho e pela lealdade que sempre demonstraram, ao Luís Mário por ter dado sempre o melhor de si. Depois a toda a direcção que sempre nos apoiou e trabalhou de forma a que tudo pudesse correr da melhor forma possível, principalmente ao Pedro Castro, Vítor Castro e ao director desportivo Paulo Martins que foi uma parte importante neste sucesso que alcançamos.
Por último agradecer aos jogadores por terem sido o que foram e pelas vitórias que alcançaram para o clube.
Quanto às críticas, muitas havia para fazer, desde a falta de acompanhamento por alguns “órgãos” de informação ou a disparidade da autarquia entre clubes que apenas estão separadas em um escalão, mas o melhor é terminar desejando boas férias e uma grande época desportiva 2015-2016 para todos.





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