FafeDesportivo à
conversa com Francisco Castro
Treinador do O.F.C. Antime.
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Texto e Fotos: Abel Castro
FafeDesportivo: Francisco Castro, perguntamos-lhe
desde já, se está satisfeito com a classificação da sua equipa, o Operário de
Antime, relativamente à época finda…
Francisco Castro: Sim, estou. Tínhamos como objetivo
traçado por nós, equipa tecnica e direção, ficar entre os cinco, seis primeiros
classificados e isso foi conseguido plenamente,depois de na época anterior o
Antime ter tido bastantes dificuldades para conseguir a manutenção. Este ano
era um ano importante, pois fizemos uma restruturaçao profunda no plantel com
muitos jogadores novos, mas isso não impediu que fizéssemos um campeonato bom,
com uma boa qualidade de jogo com processos bem defenidos e em que esses mesmos
jogadores tudo fizeram para dar alegrias aos adeptos do nosso clube.
FafeDesportivo: Lá fora comentava-se que o Antime
tinha um plantel para jogar na antiga Divisão de Honra. Concorda?
Francisco Castro: Pois, isso começou muito cedo, muita
gente de fora cedo se preocupou com o Antime, não sei bem porquê. O plantel do
Antime foi formado para jogar na 1.ª divisão e não na Honra. Mas eu respondo
com uma pergunta…Na sua vida de jornalista os seus concorrentes não fazem o
mesmo? Colocam-no num patamar elevado, para depois o poderem criticar facilmente?
Em qualquer sítio ou profissão as pessoas de fora têm sempre tendência a dizer
que os outros é que têm melhor isto, ou melhor aquilo, neste caso que têm
melhores jogadores, melhor plantel, e mais orçamento, o que não é verdade, pois
toda a gente conhece a realidade e o rigor do Antime em termos de orçamentos. E
no fundo foi essa a imagem que quiseram passar, dizendo que o Antime tinha um
plantel para jogar na Honra esquecendo-se de outros clubes com orçamento muito
superior ao do Antime, com objetivos diferentes do Antime, mas quiseram atirar
a pressão para cima de nós e retirá-la deles próprios. Mas como disse
anteriormente, tinhamos objetivos claros, que passava por ficar nos seis primeiros
classificados e nunca desde o início, mesmo em situações privilegiadas na
classificação e nos resultados, nunca mudamos o nosso discurso, e o meu
particularmente, e facilmente se prova com declarações feitas por mim. Portanto,
o que importa somos nós, e tivemos que estar preocupados connosco para no fim
atingirmos o nosso objetivo como aconteceu no fim do campeonato.
FafeDesportivo: Dos 31 golos sofridos, a sua equipa
foi a que menos consentiu a jogar em casa, somente 10. O que motivou esta
discrepância, de 10 golos sofridos em casa e 21 na qualidade de visitante?
Francisco Castro: Alguns fatores, mas desde já
deixe-me dizer que é na minha opinião relevante o facto de sermos uma das
equipas que menos golos sofreu no
campeonato,mas acima de tudo o que me deixa bastante satisfeito é que em muitos
desses jogos não permitiamos, devido à nossa organização, que os adversários
sequer criassem oportunidades de golo, e então em casa era mais relevante essa
situação, pois eramos uma equipa forte que no nosso campo com as condições do
nosso terreno,e as grandes dimensões do mesmo sentiamo-nos confortaveis no
jogo, e os poucos golos que sofremos foram golos de bola parada ou situações
caricatas que acontecem de cinco em cinco anos no futebol. Fora de casa tivemos
algumas situações que não permitiram que tivessemos a mesma capacidade de
defender, desde logo os terrenos de jogo sem ser uma desculpa, pois no início
do ano ja sabiamos o que iriamos encontrar, mas a minha equipa e as
caracteristicas dos meus jogadores sentiram alguma dificuldade de adaptação a
esses mesmos terrenos, por vezes duros eu diria muito duros, pequenas dimensões
o que proporcionava um jogo muito físico e direto com muita bola no ar.
FafeDesportivo: A partir de que altura, sentiu que não
tinha capacidades de chegar ao 1.º lugar?
Francisco Castro: Ao longo da época as equipas têm
momentos bons e momentos menos bons e nós também os tivemos e depois nas
alturas menos boas a sorte tambem faz parte do jogo, e em muitos casos é aquela
bola que passa em cima da linha e nao entra e a outra que tabela em alguém e
entra ou entao outra situaçao infeliz no jogo.E essa altura foi o momento
infeliz para nós em que em dois ou três jogos consecutivos fomos superiores aos
nossos adversários, mas nesses momentos nao tivemos aquela pontinha de sorte, pois
criamos muitas oportunidades e a bola por esta ou aquela razão nao entrava, em
sentido contrário o adversário chegava á nossa área uma ou outra vez, e em
muitos casos sem criar uma oportunidade flagrante marcava. Isso aconteceu numa
fase importante da época já na segunda volta, com algumas jornadas decorridas e
foi nessa altura que se cavou um fosso maior para o primeiro lugar.
FafeDesportivo: Considera que o facto de o Antime ter
recrutado muitos jogadores na passada época, foi prejudicial em termos de
automatismos e entrosamento?
Francisco Castro: Prejudicial não digo, porque sei os
jogadores que contratei mas que foi difícil sim, pois do onze base da epoca
anterior o Antime só tinha três jogadores e entao para assimilar
processos,entrosamento o conhecimento uns dos outros, levou o seu tempo e nós
fomos superando isso com uma entrega nos treinos muito forte dos jogadores, em
todos os momentos do treino que nos levou a ter uma qualidade de jogo boa, com
os jogadores a sentirem que tinham valor.Com o tempo tudo foi mais facil e as
coisas começaram a sair com naturalidade a darem espetáculo nos nossos jogos,
muitos deles com muita qualidade e a darem razão pela qual foram
contratados,apesar de algumas lesões que nos limitaram em certos momentos mas
todos soubemos ser fortes e determinados focados no caminho que tinhamos de
seguir e chegar a bom porto no final do campeonato como veio a suceder.
FafeDesportivo: Ao longo da época tivemos conhecimento
por responsáveis do seu Clube, que o trabalho das equipas de arbitragem
prejudicou o Antime. Confirma?
Francisco Castro: Sim confirmo. Não me quero alongar
muito sobre o assunto, mas sentimo-nos prejudicados em alguns jogos e posso referir
que em sete deles, fomos claramente penalizados por erros de arbitragem que nos
custaram a perda de pontos, mas não vou referir quais são os jogos, por
respeito aos nossos adversários.
FafeDesportivo: Tendo o Operário umas extraordinárias
infraestruturas, e uma equipa de futebol competitiva, que opinião tem sobre a
pouca presença de adeptos?
Francisco Castro: No contexto em que se encontra o
país e o futebol em particular não é de admirar, pois isso acontece em quase
todos os estádios ou campos, mesmo a nivel profissional, ou semi-profissional e
distrital. Cabe-nos a nós, homens do futebol, neste caso, treinador de futebol,
conseguir que a nossa equipa pratique um bom jogo, um futebol vibrante, com
qualidade para que os adeptos voltem em massa, não para meia dúzia de jogos,
mas sim, no campeonato todo, embora em alguns dos nossos jogos, este ano, a
moldura humana foi de certa maneira bem composta no nosso campo, mas
principalmente, e é um fator a destacar, fora de casa com muitos apoiantes do
Antime em todos os jogos. E desde já o meu agradecimento por esse apoio.
FafeDesportivo: Quando chegou ao Clube, teve pela
frente um trabalho árduo, mantendo a equipa na 1.ª Divisão Distrital no último
segundo, após a passagem de vários treinadores. Isso serviu como factor
motivacional para continuar?
Francisco Castro: Também. Mas independentemente disso,
o que quero realçar foi, e é a confiança demonstrada pela direção, na pessoa do
seu presidente Jorge Marinheiro, e do seu vice-presidente Osvaldo Neves, que
num dos piores momentos desportivos do Antime nos últimos anos, e certamente
com muitos, bons e experientes treinadores a quererem ir para o Antime,
escolheram-me a mim para um lugar de tanta responsabilidade numa hora dificil e
em que todos, ou quase todos que estavam fora da estrutura, não acreditavam que
o Antime se safasse da descida de divisão. Foram três meses difíceis, de muito
trabalho, em que todos juntos, direção, treinador e sua equipa técnica e
jogadores, se uniram de uma forma sincera conseguindo aquilo que todos
duvidavam. Lógico que depois desse trabalho a motivação, não só minha como de
toda a gente, era muita para continuar.
FafeDesportivo: Conseguiu a subida à Divisão de Honra
num ano de fácil acesso. O que faltou para a sua equipa jogar de “caras” até ao
final pelo acesso à subida?
Francisco Castro: ‘’ De caras’’ sempre jogamos, em
todos os jogos, porque todos os jogos que disputamos e todas as minhas equipas
irão encarar os jogos ‘’de caras’’ perante qualquer adversário, e relembro que
neste campeonato derrotamos o então lider Pevidém em sua casa, e umas jornadas
mais tarde o então lider Ruivanense em nossa casa, nos dois jogos clara e
inequivocamente. São dois exemplos de que não tememos ninguém seja que
adversário for, fora ou em casa. O facto de se ter cavado um fosso em termos
pontuais em relação a nós e não estarmos mais perto dos dois primeiros,
deveu-se a um certo relaxamento da nossa equipa que não deveria ter acontecido
quando foi do conhecimento que já teriamos o acesso á Honra confirmado. Mas,
como em tudo na vida, os jogadores são humanos e os humanos erram, e em alguns
destes jogos finais aconteceu isso.
FafeDesportivo: É do conhecimento de todos os
desportistas, que o Francisco Castro conseguiu, apesar de tudo, reorganizar o
futebol do Operário de Antime, após umas épocas de alguma falta de identidade
desportiva. Sente-se naturalmente mais valorizado…
Francisco Castro: Sim, naturalmente. É para isso que
existem os treinadores, com ideias diferentes mas certamente todos com uma
identidade própria para as suas equipas. Neste caso tenho uma identidade que
tento incutir nos meus jogadores e na minha equipa, não quer dizer que seja
pior ou melhor, mas naquilo que acredito e que quero que os meus jogadores
acreditem pois é mais fácil implementar essa identidade quando os jogadores
acreditam naquilo que lhes é transmitido. Hoje o Antime tem uma identidade
própria da sua equipa com um futebol agradável, de qualidade que muita gente
gosta, e em que os jogadores se sentem bem e motivados com essa forma de jogar
que os valoriza em termos globais e que por isso, mesmo alguns deles, irão
neste mesmo defeso dar o salto. Só assim poderemos trabalhar com o objetivo de
ser melhores dia após dia, tendo previamente definida uma identidade. Relembro
que neste campeonato por várias vezes, por questões taticas de cada jogo
mudamos a nossa forma de jogar (sistema de jogo) mas acima de tudo mantivemos
sempre a nossa identidade, apresentando a mesma qualidade de jogo de sistema
para sistema.
FafeDesportivo: Sei que é uma pergunta pertinente, mas
sou “forçado” a questioná-lo. Silvares e Antime foram até agora os clubes que
representou em Fafe. Que diferenças há entre ambos?
Francisco Castro: São dois clubes com muita história,
rivais, e em que a rivalidade sadia no futebol é boa e bonita. Tenho muito
orgulho por ter trabalhado no Silvares, da mesma forma que me sinto
extremamente orgulhoso de continuar o meu trabalho no Antime. Toda a gente tem
ideias diferentes, quer num quer noutro clube e certamente com essas mesmas
ideias distintas todos querem o melhor para os seus clubes, dia após dia, época
após época. Quando estive no Silvares defendi os interesses do clube, para ser
mais forte, e isso deixa-me feliz, neste momento trabalhando no Antime com o
conhecimento maior das pessoas deste clube, pois já o tinha feito noutra altura,
cabe-me ajudar estas pessoas a fazer deste clube maior e mais pujante no
futuro.
FafeDesportivo: Quem foi, na sua opinião, a melhor
equipa do campeonato?
Francisco Castro: Olhando para a tabela
classificativa, foi o Pevidém pois foi o campeão, e desde já endereço os meus
parabéns pelo título conquistado, mas contudo na minha opinião, e por aquilo
que tive oportunidade de ver pessoalmente em muitos jogos deste campeonato o
Ruivanense foi a equipa que apresentou uma melhor qualidade de jogo, mas que
por esta ou aquela razão não conseguiu o seu objetivo, mas também existiram
outras equipas com muita qualidade e por isso tornaram o campeonato muito
competitivo.
FafeDesportivo: Foi talvez o primeiro treinador a
renovar contrato. Fica perceptível que existe uma simbiose perfeita entre o
treinador e a Direcção do Antime…
Francisco Castro: Sim, é logico e evidente, mas o que
me deixa satisfeito e apesar dessa simbiose, foi a forma e a confiança que as
pessoas responsáveis demonstraram em mim e nas minhas capacidades. Um convite
para renovar contrato é sempre bem-vindo principalmente quando o trabalho é bem
realizado e os objetivos são alcançados. Mas no caso, isso não foi feito no fim
da época, ou com os objetivos já alcançados, pois o convite que me foi feito
para continuar, foi-me endereçado a muitas jornadas do fim, concretamente nove
jornadas do fim, e numa fase em que os resultados nesses jogos não foram os
melhores, e eu aí senti toda a confiança que as pessoas responsáveis do Antime
depositavam em mim, no presente, mas também para o futuro.
FafeDesportivo: Vai manter a base do plantel? Que
objectivos para a próxima temporada?
Francisco Castro: Isso é o que desejamos, mas no
futebol muitas coisas acontecem e os jogadores procuram muitas vezes o melhor
para eles. Neste caso queremos manter a base do nosso plantel, pois trata-se de
um plantel com qualidade e seria irracional da nossa parte desfazermo-nos dessa
base depois do trabalho realizado. É lógico que iremos tomar opções, nem todos
vão ficar, nem todos vão sair, (e desde já agradeço a todos os meus jogadores
que formaram este plantel, pelo empenho e a dedicação demonstrada) mas sabemos
aqueles que pretendemos, e temos alvos bem definidos para contratar no mercado.
O objetivo para a próxima temporada ainda não está definido, pois tudo depende
do plantel que conseguirmos formar e da forma como as séries vão ficar
divididas, mas como treinador, tenho sempre como objetivo superar o ano
anterior, e este ano não irá fugir à regra, por isso tentarei fazer melhor que
a época que agora terminou.
FafeDesportivo: Vai para a segunda época consecutiva,
acrescida da fase da sua entrada. Pensa continuar por muito tempo? Sente que é
no Antime que pode catapultar a sua carreira de treinador?
Francisco Castro: O futuro ninguém sabe; agora o
importante é sentir-me bem no clube que trabalho, e neste caso sinto-me muito
bem, acarinhado pelas pessoas, com a confiança das mesmas, que me apoiam a mim
e ao grupo de trabalho, e logicamente, neste clube com estas condições que nos
oferece, teremos sempre como objetivo valorizar mais o nosso trabalho, e neste meu
caso em particular, como treinador, catapultando a minha carreira como
treinador para outros patamares.
FafeDesportivo: Francisco Castro, temos de terminar.
Quer deixar alguns agradecimentos para alguém, individual ou colectivamente?
Disponha…
Francisco Castro: Em primeiro lugar agradecer à minha
familia em particular à minha esposa, ao meu filho, e à minha filha, pois são
eles que se privam da minha presença devido ao facto de ser treinador de
futebol, mas mesmo assim sempre me apoiaram e estão sempre presentes na maioria
dos jogos. Depois, às pessoas que acreditam no meu trabalho, dirigentes do
clube que represento, aos meus colaboradores que me ajudam a tomar decisões e
que se sentem úteis com a responsabilidade que lhes atribuo, e aos meus jogadores,
porque sem eles, nada disto seria possivel, e são eles que fazem os
treinadores, eles acreditam naquilo que lhes transmito e eu faço-os acreditar
que ‘’ por ali é que é o caminho’’ .
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