Fonte: Fair Play
Diana Durães. “Sou
sempre a primeira a chegar à piscina e quase sempre a última a sair”
O
Fair Play entrevistou a recordista nacional absoluta dos 200 e 400 metros
livres. A dias de nadar o seu primeiro mundial de piscina longa, Diana Durães
falou sobre o seu percurso até este que é o ponto mais alto da sua carreira até
agora
Diana,
há 4 anos tomaste a decisão de, ainda muito nova, ir sozinha para Rio Maior.
Como foi esta transição na tua vida?
DD: Essa decisão já
foi tomada há 6 anos, quando fui para Coimbra. Depois fui para o CAR de
Montemor. Quando fui para Rio Maior já estava mais que habituada, uma vez que
saí de casa aos 14 anos. Por isso, não foi uma decisão muito difícil.
Foi algo que eu sempre quis. Sempre achei que para chegar onde quero, não
chega treinar só num clube e eu quis apostar em treinar num sítio como o que
estou hoje.
Agora sou a única rapariga no meu grupo de treino e isso é muito bom porque
aumenta o meu nível de treino, uma vez que as referências que tenho são
rapazes.
Sacrificaste
muito da tua vida pessoal quando tomaste essa decisão?
DD: Não considero
que tenha sido um sacrifício. Aconteceu porque quis. Claro que custou, e ao
longo do tempo ainda me custa mais, mas foi a vida que eu escolhi, por isso não
posso dizer que foi um sacrifício.
As
metas que traçaste na altura, estão-se a cumprir agora?
DD: Sim, na altura
não pensava em Europeus e Mundiais. Era juvenil, o meu objectivo da altura era
progredir aos poucos. Ir aos Campeonatos da Europa de Juniores, Mundiais de
Juniores,…e todos os objectivos que foi pondo ao longo das épocas foram sendo
cumpridos.
Fui conseguindo ir a todas essas competições e agora cheguei ao segundo
patamar mais elevado, que é o Campeonato do Mundo, falta apenas o primeiro
patamar que são os Jogos Olímpicos.
DD: Não gosto de
chegar atrasada a lado nenhum. Sou sempre a primeira a chegar e quase sempre a
última a sair.
No
ano passado estiveste até 15 dias antes dos JO na expectativa de saber se irias
ser convocada. Foi uma desilusão quando soubeste que não ias ao Rio?
DD: Não foi uma
desilusão. Claro que custou, mas no ano passado nem pensava em Jogos Olímpicos
porque os mínimos de acesso ainda eram muito exigentes para mim. Mas depois de ter
feito 4:13 fiquei sempre com esperança.
Claro que custou quando soube que não ia, mas não foi uma desilusão porque
tudo o que fiz no ano passado foi excelente.
No
início desta época, trocaste o FCP pelo SLB. É um clube que permite que
continues a apostar na tua carreira, pelo menos, até Tóquio 2020?
DD: Sim, claro.
Sempre tive tudo o que precisei no FCPorto, mas neste momento o Benfica dava-me
melhores condições e daqui para a frente é o clube que eu vou representar.
Estou muito bem lá.
Foto: Luís Filipe Nunes
Este
ano abriste logo a época com um verdadeiro tempo canhão nos 400 livres em
piscina curta. Estavas à espera de fazer um tempo daqueles logo no início da
época?
DD: Não estava nada
à espera. Eu queria fazer o mínimo para o Mundial de Piscina Curta, mas não
estava nada à espera de fazer 4:05.
Ainda esta semana estivemos em estágio no Algarve e cheguei à piscina de
Vila Real de Santo António e fiquei a pensar como é que eu fiz 4:05?!
E se
fizeres o equivalente em piscina longa, vais bater o teu record nacional
absoluto por larga margem. Acreditas que esse tempo virá agora em Budapeste?
DD: 4:05 em piscina
longa é um absurdo e mesmo o equivalente em longa, ou seja 4:09/4:10, é bem
abaixo do que tenho. Se fizer a minha melhor marca já fico muito contente.
Apesar
de serem os teus primeiros mundiais de piscina longa, nos últimos dois anos
adquiriste muita experiência internacional nos Europeus de Londres e nos
Mundiais de Piscina Curta em Windsor. Os factores externos inerentes a uma
prova desta dimensão já não te perturbam?
DD: Cada vez estou a
ficar melhor no aspecto de não sentir a pressão de uma prova desse nível.
Quando era mais nova ficava muito nervosa e muito ansiosa e as provas
internacionais acabavam por não correr bem.
As últimas provas que fiz, como por exemplo agora em Canet, fiquei em
terceiro, a 4 segundos do meu melhor aos 800. Acho que estou a ficar bem melhor
nesse aspecto e o facto de treinar com rapazes e ter sempre gente à frente
também me ajuda para agora no mundial isso também não me influenciar.
Foto: FPN
E
quais são os teus objectivos?
DD: Em primeiro
lugar quero fazer as minhas melhores marcas. Ficar entre as 16 primeiras seria
um óptimo objectivo.
DD: Sim, é muito bom
termos alguém com quem competir. Tanto eu como ela, se não tivéssemos a
competição uma da outra, se calhar não tínhamos os tempos que temos.
É sempre bom ir ao Meeting de Coimbra ou a um campeonato nacional e ter ali
alguém que nos obriga a ir no máximo.
Pelo menos numa prova de 800 metros, porque quanto mais longa é a prova,
melhor é ter alguém ao lado para manter o ritmo sempre elevado. Nadar sozinha
uma prova longa é mais difícil.
Vais
sentir a falta dela a partir do próximo ano?
DD: Sim, mas vai ser
muito bom para ela e eu fico muito contente por ela. Quando regressar eu vou
estar aqui para lhe dar luta na mesma. [risos]
Foto: Luís Filipe Nunes
DD: Sem dúvida os
400. Sempre fui nadadora de 400 metros, só nestas últimas duas épocas é que
comecei a nadar os 800 também, mas tudo aquilo que eu faço é tendo em vista a
melhoria nos 400.
Mas sei que é nos 800 que tenho melhores resultados e, ao mesmo tempo, é a
prova onde posso evoluir mais, apesar de ser a que gosto menos de nadar.
E é
precisamente nos 800 que tens mínimo para o Mundial. A tua preparação está a
ser mais vocacionada para esta prova?
DD: Pois…é a prova
onde eu estou mais perto dos mínimos olímpicos e é a prova que eu nado melhor.
Mas é a que eu gosto menos de nadar [risos].
Não é por isso que deixo de dar o meu melhor quando a nado.
Quanto à preparação, só os 200 é que é uma prova que exige uma preparação à
parte das outras duas. A preparação é a mesma para nadar 400 ou 800.
Por outro lado, quem nada 400 e 800 também sabe nadar 200, e como esta é a
prova onde tenho o nível mais fraco em termos internacionais, o meu treino é
mais direccionado para as provas mais longas.
Mais
a longo prazo, já só pensas nos JO 2020 e em garantir a presença de forma
confortável para não repetires a experiência do ano passado?
DD: Faltam três anos
e eu estou a três segundos do mínimo aos 800 metros. Numa prova longa, tirar
três segundos não é nada, por isso, nestes três anos, se continuar a trabalhar
como tenho trabalhado, com certeza vou tirar, pelo menos, esses três segundos.
No
último ciclo olímpico [2012-2016] evoluíste de 2:03 para 2:01, de 4:30 para
4:13 e de 9:24 para 8:43. Estes indicadores dão-te confiança no teu trabalho e
mostram-te que ainda tens margem para evoluir bastante?
DD: Sim, desde que
cheguei ao CAR em Rio Maior que tenho evoluído a pouco e pouco.
Em cada prova que nado, consigo quase sempre tirar mais um bocadinho de
tempo, por isso em três anos, a continuar assim, de certeza que vou lá chegar.
Para
terminar, a nossa pergunta da praxe: Achas que há Fair Play na natação?
DD: Acho que sim.
Isso vê-se nas competições mais importantes, quer nas competições
internacionais, onde nós portugueses somos muito unidos, quer nas competições
nacionais, quando há alguém que vai para fazer mínimos ou recordes nacionais,
há sempre muito Fair Play de toda a gente puxar por esse nadador,
independentemente do clube.
E tu
já sentiste várias vezes a piscina toda a puxar por ti, quando vais a nadar para record nacional.
DD: Muitas vezes não
dá para ouvir, mas ouvimos sempre o ruído de fundo, quando respiramos…dá sempre
mais uma forcinha.
Muito
obrigado em nome do Fair Play e votos de muito sucesso!
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